O Futuro Já Começou: O Abandono Silencioso dos Idosos em Sergipe
Imagine um futuro onde a cidade inteira desacelera. As ruas antes cheias de crianças dão lugar a passos lentos, olhares carregados de histórias e mãos que já seguraram o mundo, mas hoje tremem diante do esquecimento. Esse futuro não está distante. Não é previsão, não é possibilidade. É presente. É agora.
Sergipe, o menor estado do país, está vivendo um fenômeno que muitos ignoram, fingem não ver ou empurram com o discurso burocrático do "vamos avaliar". A população está envelhecendo. E envelhecendo sozinha.
Aracaju, a capital, já concentra o maior número de idosos do estado , e não é apenas uma questão estatística. É uma realidade que se impõe nas filas de hospitais, nas farmácias, nos abrigos lotados e nas praças que já foram sinônimo de vida comunitária, mas que hoje se tornam refúgio para a solidão.
Nos municípios vizinhos, o retrato não é diferente. Socorro, Lagarto, Itabaiana e Estância vivem uma sobrecarga social invisível, marcada por idosos que vivem isolados, abandonados ou sobrecarregando sistemas públicos que, claramente, não foram desenhados para essa nova realidade.
E quando olhamos para Itabi, Ribeirópolis e Moita Bonita, o sinal de alerta se torna sirene: em muitas regiões, a proporção de idosos já ultrapassa a de jovens.
🚨 A Crise Que Ninguém Está Preparado Para Enfrentar
O que essas cidades têm em comum?
Nenhuma delas está pronta.
O sistema de saúde não está preparado.
O transporte público não está preparado.
A infraestrutura urbana não está preparada.
Os programas sociais não estão preparados.
A sociedade, como um todo, não está preparada.
E, enquanto os números crescem, cresce também o silêncio. O abandono. A negligência, agora institucionalizada.
🏚️ Cidades Que Envelhecem Mal, Envelhecem Todos Nós
Sergipe, como o resto do Brasil, vive a transição demográfica. As famílias estão menores. As mulheres têm menos filhos. As pessoas vivem mais, mas nem sempre vivem bem.
Porém, diferente dos grandes centros do sul e sudeste, onde há mais investimento em políticas públicas voltadas ao envelhecimento, aqui a crise bate mais forte.
Calçadas quebradas.
Falta de transporte acessível.
Centros de convivência insuficientes ou inexistentes.
Fila de espera de meses por um geriatra no SUS.
Lares de idosos superlotados e sem fiscalização adequada.
Falta de programas de atendimento domiciliar.
O idoso sergipano, quando não tem uma rede familiar que o acolha, é condenado a uma vida de dependência, solidão e, muitas vezes, sofrimento invisível.
💔 O Abandono Que Se Disfarça de Rotina
Não é raro encontrar em bairros de Aracaju , ou nas ruas centrais de Itabaiana, Estância e Lagarto , senhores e senhoras que vivem do benefício de um salário mínimo, lutando para escolher entre comprar remédio ou comida.
Muitos vivem em casas insalubres, outros são alvos de exploração financeira, negligência e até violência psicológica.
E o mais cruel: a maioria desses casos não aparece nas estatísticas. Porque não há quem denuncie, não há quem fiscalize, não há quem enxergue.
⚖️ Negligência Não É Destino. É Escolha Político-Social.
Quando dizemos que “o futuro já começou”, não é figura de linguagem. É fato. E se esse futuro é envelhecer, não podemos aceitar que envelhecer em Sergipe seja sinônimo de abandono.
Porque envelhecer sem cuidado não é um destino biológico, é um projeto político. E a negligência que hoje se disfarça de falta de verba, de burocracia, de empurra-empurra institucional, é, na prática, uma escolha: a escolha de quem merece cuidado e quem será descartado socialmente.
📊 Os Dados Não Mentem, mas eles Gritam.
Aracaju já tem mais de 15% da população composta por idosos.
Municípios como Itabi, Ribeirópolis e Moita Bonita caminham rapidamente para ter uma população majoritariamente idosa.
A expectativa de vida aumentou, mas os anos vividos com qualidade diminuíram, segundo dados da Fiocruz.
O que isso significa na prática?
Mais doenças crônicas.
Mais dependência de serviços públicos de saúde.
Mais necessidade de cuidadores — um profissional que sequer é regulamentado como deveria.
Mais solidão, mais depressão, mais ansiedade.
E menos qualidade de vida. Menos dignidade.
🏛️ O Que Fazer? A Pergunta Que Ninguém Está Respondendo.
Nenhuma cidade sergipana tem um plano de envelhecimento urbano robusto, intersetorial e sustentável.
Enquanto isso, a gestão pública se preocupa mais com festas, eventos, maquiagem urbana e discursos bonitos do que com o óbvio: preparar as cidades para o envelhecimento.
O que falta?
Centros de convivência em cada bairro, com atividades culturais, físicas e sociais.
Serviços de saúde com foco em geriatria, fisioterapia, nutrição e atendimento psicossocial.
Criação de redes de cuidadores capacitados, pagos e reconhecidos como profissionais essenciais.
Transporte público gratuito, adaptado e eficiente para idosos.
Adaptação urgente da malha urbana: calçadas, rampas, travessias e acessibilidade em todos os espaços públicos.
Programas de visitas domiciliares e acompanhamento psicossocial.
Falta, acima de tudo, vontade política.
Envelhecer não é um problema. É uma vitória da humanidade, da medicina, da sociedade.
O problema é envelhecer sem dignidade.
Sem apoio. Sem cidade. Sem rede. Sem voz.
Quando a gente negligencia quem envelhece hoje, a gente assina a própria sentença para o futuro. Porque não há outro caminho. Todos, sem exceção, caminham para o envelhecimento.
A pergunta é:
Que tipo de sociedade estamos construindo para nós mesmos?
Se hoje ignoramos os idosos de Itabi, Ribeirópolis, Moita Bonita, Lagarto, Socorro e Aracaju, amanhã seremos nós.
E, se nada mudar, o futuro que nos espera é esse mesmo: envelhecer sozinhos.
Trago fatos , Marília Ms.
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