Aracaju Park Shopping: Um Gigante Esquecido Pela Cidade Que Não Pensa Cidades



Inaugurado em 2019, com direito a pompa, expectativa e promessas de ser um divisor de águas no setor comercial de Aracaju, o Aracaju Park Shopping nasceu moderno, amplo, cheio de potencial. Um empreendimento que, no papel, parecia a aposta certa: localização privilegiada, perto do maior terminal da capital, em uma região com enorme potencial turístico e econômico , às margens do belíssimo Rio Sergipe e vizinho da orlinha do Bairro Industrial.

Mas basta visitar o shopping hoje para perceber uma realidade incômoda: ele está praticamente vazio.

Poucas lojas abertas. Pouco movimento. Pouco fluxo. E uma pergunta que todo mundo que pisa ali se faz:
Por que um empreendimento desse porte, com tanta estrutura, ainda não decolou?

A resposta não é mistério. Na verdade, ela é até óbvia , mas, como sempre, a gente esbarra no velho e recorrente problema das cidades brasileiras:
planejamento urbano.
Ou melhor, a total falta dele.


Se um shopping não é acessível, ele simplesmente não existe. Não adianta ter estrutura, não adianta ser bonito, não adianta ter potencial turístico, não adianta ter espaço. Se as pessoas não conseguem chegar até lá , seja de carro, de ônibus ou a pé , o fracasso é questão de tempo.

E é exatamente isso que está acontecendo com o Aracaju Park Shopping.

O acesso é ruim. Ponto. E não se trata de opinião. É fato.

Quem depende de transporte público precisa enfrentar trajetos desconfortáveis, atravessar vias mal sinalizadas, caminhar em espaços que não foram pensados para pedestres , sem calçadas dignas, sem segurança, sem cobertura, sem conforto.

Quem vai de carro, enfrenta uma logística confusa, sem placas, sem boa sinalização, sem integração com o fluxo da cidade. Parece que o shopping foi plantado ali, mas esqueceram de conectar ele ao restante de Aracaju.

Olhe para o Shopping Jardins, um dos maiores sucessos comerciais da cidade. Ele também está localizado em uma área estratégica, mas não foi o acaso que fez dele um polo consolidado. Desde o começo, o Jardins teve algo essencial: acessibilidade.

As principais linhas de ônibus da cidade param literalmente na porta. Saindo do terminal do DIA, em poucos minutos você chega no shopping. Tem passarela, tem ponto de ônibus bem localizado, tem acesso fácil para pedestres e carros. É funcional.

Agora veja o Shopping RioMar. Ele também enfrentou dificuldades no começo. O acesso não era dos melhores e o fluxo era baixo. Mas, diferentemente do que vemos no Aracaju Park, o RioMar percebeu rapidamente que não bastava esperar , era preciso agir. E investiu pesado em acessibilidade: criou pontos de ônibus, sinalização eficiente, melhorou as entradas e saídas, e hoje é um shopping consolidado, pulsante, referência na cidade.


O cenário se agrava ainda mais com a chegada da nova Ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros. Uma obra que, na teoria, traria integração, desenvolvimento e fluxo maior de pessoas. Mas, na prática, o que deve acontecer?

Simples. Quem vem da Barra, de carro ou transporte, não vai escolher o Aracaju Park. Vai optar pelo RioMar, que estará literalmente no caminho direto, de acesso fácil, estruturado, sem complicação.

Ou seja:
O Aracaju Park Shopping corre um sério risco de ser ainda mais esquecido.

E quando o público não chega, os lojistas não ficam. Sem lojistas, não há movimento. Sem movimento, não há faturamento. E sem faturamento, não há crescimento. É um ciclo vicioso , e, nesse ritmo, é também um ciclo de falência anunciada.

O problema não é o espaço. Não é a beleza do lugar. Não é a falta de potencial.
O problema é que ninguém pensou a cidade. Ninguém pensou as pessoas.

Soluções existem , mas exigem parcerias, visão e, principalmente, vontade política e empresarial.

✅ Transformar o shopping em um ponto turístico e cultural:

Aproveitar a vista surreal do Rio Sergipe.

Criar um rooftop (último andar) com bares, cafés, mirante, espaços instagramáveis e eventos.


✅ Eventos fixos e periódicos:

Feiras gastronômicas, festivais de música, mercados de economia criativa, mostras culturais.


✅ Integração real com o espaço urbano:

Passarelas diretas do novo estacionamento público até o shopping.

Melhorias na iluminação pública dos trajetos.

Criação de linhas de ônibus que passem pela porta do empreendimento.

Micro-ônibus circular, interligando terminal, orla do bairro industrial e o shopping.


✅ Parcerias com a prefeitura e o setor privado:

Projetos de urbanismo tático, criando praças, parklets, ciclovias e áreas de convivência no entorno.

Quando se fala em acessibilidade, não é só sobre rampas e elevadores. É sobre fluxo. Sobre integração da cidade. Sobre transporte eficiente, segurança, mobilidade urbana e pensar o espaço para pessoas , não só para carros.

Porque enquanto Aracaju não entender que cidade é feita de conexões , físicas, emocionais, culturais e sociais , vamos continuar vendo projetos lindos no papel, que fracassam na prática.

O Aracaju Park Shopping corre sério risco de ser mais um elefante branco. Mais um retrato do urbanismo fracassado, da desconexão entre o setor privado, o público e, principalmente, as pessoas.

Mas se houver coragem, se houver visão, se houver investimento no que realmente importa , gente, fluxo, acessibilidade, cultura e integração , esse shopping pode se transformar em um dos maiores pontos turísticos, culturais e comerciais de Aracaju.

Porque espaço tem. Potencial tem.
Falta é cidade. Falta é conexão. Falta é visão.

Trago fatos,  Marília Ms. 

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