O silêncio das mulheres traídas: quando o parceiro se torna fonte de dor em momentos de vulnerabilidade

Recentemente, um perfil jovem nas redes sociais expôs um relato brutal e doloroso que muita gente precisa ouvir, mas que poucos querem enxergar. A proposta era simples: “conte aqui algo que seu marido fez que te magoou, mas que você nunca contou pra ele”. O que veio depois foi um desabafo que revela não só uma traição, mas uma sucessão de abusos, negligência emocional e violência simbólica, tudo no período mais delicado da vida de uma mulher: a gravidez e o pós-parto.

A história é assim: no final da gravidez, o parceiro traiu, passou uma doença que quase levou a criança. Tratou mal a companheira na suspeita de uma gravidez que não se confirmou. E o que era para ser um momento de união e cuidado, se transformou em um pesadelo ,  ele trouxe outra pessoa para a casa deles, usou as coisas da mulher enquanto ela ainda se recuperava da cesariana do quarto filho. Exigia relações sexuais naquele momento frágil, ignorando a dor, o corpo marcado e o sofrimento da mulher.

Não para por aí. A segunda filha do casal nasceu prematura e morreu poucos dias depois. Enquanto ela ainda estava hospitalizada, ele traiu novamente, dessa vez com uma garota de programa. A zombaria veio no pacote: “você ficou inútil depois que engravidou”. É o que ouvimos de quem desumaniza, diminui e controla mulheres no lugar que deveria ser de proteção.

Quantas mulheres carregam essa história dentro de si, mas não falam? O medo, a vergonha, o julgamento social, a dependência financeira, emocional e até religiosa criam uma prisão invisível. A culpa é manipulada para manter o silêncio, para impedir que a verdade seja dita. Afinal, “marido é sagrado”, “família é para sempre”, e “problema se resolve dentro de casa”.

Mas dentro dessa casa, às vezes, mora um monstro , um “bostinha”, como a jovem chamou, que não merece sequer o nome de homem. Porque o que define o ser humano digno é a capacidade de respeitar, cuidar, apoiar, especialmente em momentos de vulnerabilidade.

O que leva alguém a agir assim? A reflexão da jovem sobre o ego frágil do parceiro não é apenas uma opinião, mas uma pista essencial para entender esse comportamento tóxico.

Quando a mulher não pode ser “100% para o parceiro”, seja por limitações físicas, emocionais ou simplesmente por escolher colocar sua saúde e bem-estar em primeiro lugar, o parceiro que se apoia num ego frágil reage com agressividade, traições e desrespeito. É como se a incapacidade da mulher de estar à disposição total reforçasse uma insegurança profunda, um medo de perder o controle e o domínio.

Essa insegurança gera violência ,  não necessariamente apenas física, mas psicológica, emocional, simbólica , que deixa marcas duradouras e dificulta a recuperação da mulher, que deveria estar em primeiro lugar naquele momento.

O conselho final da jovem, que “é preciso estar atento aos sinais”, é um alerta para todas as mulheres e pessoas ao redor delas. Os sinais nunca desaparecem. Eles podem ser pequenos e silenciosos, mas estão lá: desprezo, críticas constantes, desprezo pela saúde e pelos limites da parceira, traições, manipulação emocional.

Ignorar esses sinais é entrar numa armadilha que pode custar caro , não só para a saúde mental e física da mulher, mas para a vida de seus filhos e sua dignidade.


Não é só “problema do casal”. É um problema social que envolve educação, cultura, direitos, proteção e respeito às mulheres. É necessário falar sobre esses casos, denunciar, oferecer apoio e criar redes de acolhimento reais.

A normalização da violência e da traição em nome do “amor” ou da “família” precisa acabar. O que vemos nesse relato não é amor, é violência disfarçada. É o reflexo de um sistema que não valoriza a mulher como sujeito de direitos, capaz de decidir, sentir e se proteger.

A voz dessa jovem, ao contar sua dor, quebra o silêncio de tantas outras. É um grito contra a opressão, contra o machismo, contra a cultura que aceita que mulheres sejam reduzidas a objetos e vítimas silenciosas.

Que essas palavras sirvam como alerta, como instrumento de conscientização e, principalmente, como convite à empatia e à ação. Mulheres não são “inúteis” depois de engravidar, não são culpadas pelas traições e abusos que sofrem, e merecem, sim, respeito, amor e cuidado , sempre.

Trago Fatos , Marília Ms.




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