O Fim do Sindicato e a Ilusão do Trabalhador Livre: O Mito do E-mail Que Liberta



“Vitória do trabalhador!”, grita o deputado, batendo no peito, com cara de herói da classe operária. Aplausos, curtidas, compartilhamentos. Tá todo mundo achando lindo. Agora o trabalhador pode cancelar digitalmente a contribuição sindical. Não precisa mais ir no sindicato, enfrentar fila, preencher papelada, perder tempo. É simples: e-mail, aplicativo, meia dúzia de cliques e pronto , você se livrou daquela “extorsão mensal”.

Mas eu tenho uma notícia: se você acredita que esse discurso aí é vitória do trabalhador, você não entendeu absolutamente porra nenhuma de como funciona o jogo do capitalismo. E, se acha que tá ficando livre, parabéns. Tá ficando livre sim… livre pra ser esmagado.

Quem comemora isso?

Sabe quem tá rindo? Quem tá estourando champanhe? Quem tá batendo palminha? Não é você, não. Não é o trabalhador. É a FIESP. É a FEBRABAN. É a CNA. É a CNI. É a mesma galera que, na surdina ou na cara dura, faz lobby dia e noite pra proteger os próprios interesses.

Eles não têm vergonha, nem disfarçam. A FIESP, por exemplo, não sossega enquanto não derruba isenção, não aumenta imposto sobre quem importa de fora, não pressiona pra manter subsídio, isenção fiscal e privilégio pra indústria paulista. A FEBRABAN, dos bancos, vive pressionando pra não mexerem um centavo dos lucros bilionários deles. E adivinha? Eles fazem isso como? JUNTOS. ORGANIZADOS. EM FEDERAÇÃO. EM SINDICATO.

Tira o nome, mas o jogo é o mesmo.

Se você troca "FIESP" por "Federação das Indústrias", se troca "FEBRABAN" por "Federação dos Bancos", se troca "CNA" por "Confederação Nacional da Agropecuária", o que você tá vendo é exatamente isso: sindicatos. Sindicatos da burguesia. Sindicatos dos ricos.

Eles estão organizados. Eles fazem lobby. Eles pressionam o Estado. Eles escrevem, literalmente, as leis que serão votadas no Congresso. Eles sentam nas mesas de negociação do governo, das autarquias, dos ministérios, do Banco Central. Eles articulam pra que tudo continue girando no sentido dos próprios lucros.

E adivinha quem tá sozinho na contramão disso tudo? Você. O trabalhador. O pobre. O fodido. O lascado.

A ilusão do trabalhador livre.

O que esse deputado menudo da burguesia tá te vendendo é uma ilusão barata de liberdade. A ilusão de que você é autossuficiente, de que não precisa de sindicato, que não precisa de coletividade, que você é capaz de negociar de igual pra igual com quem tem todo o dinheiro, todo o poder, toda a influência.

É simples, né? Ou você aceita o que teu patrão quer, ou você morre de fome e vai morar na rua. Porque, sem sindicato, é isso que sobra. Uma simetria de poder bizarra, perversa, violenta. Uma relação onde um lado tem tudo , e o outro tem só a própria força de trabalho, cada vez mais barata, descartável e precarizada.

“Mas meu sindicato é cheio de pelego.”

E quem é que não sabe disso? Ninguém aqui é otário. Tá cheio de sindicato que virou balcão de negócio, curral eleitoral, braço de partido, cartório de pelego. Perfeito. Você tá certo. Mas sabe como resolve isso? Se organiza. Toma seu sindicato. Retoma o controle. Faz dele instrumento real de luta da sua categoria.

Sabe quem faz isso muito bem? A burguesia. Vai lá olhar como funciona a FIESP, a FEBRABAN, a CNI, a CNA. Eles não abandonam os sindicatos deles. Pelo contrário. Eles financiam, fortalecem, mantêm ativos, porque sabem que é através da organização coletiva que eles continuam dominando, acumulando e esmagando.

Você acha que eles iam querer acabar com sindicato se isso fosse ruim pra eles? Claro que não. Eles querem é que VOCÊ fique sem sindicato. Eles querem é que VOCÊ vá sozinho falar com o patrão, pedir aumento, negociar condição de trabalho, horário, descanso, plano de saúde, insalubridade. Porque sozinho, meu amigo, você não vale nada. E eles sabem disso.

A luta de classes nunca parou.

Só que eles nunca te contaram isso na escola. Nunca te ensinaram na TV. Nunca te mostraram no Jornal Nacional. Eles te convenceram de que luta de classes é papo de comunista. Que sindicato é coisa do passado. Que greve é crime. Que trabalhador bom é trabalhador quieto, produtivo e grato.

Enquanto isso, eles seguem organizados. Seguem pressionando. Seguem moldando as leis, as regras, o jogo. Seguem garantindo que seus lucros aumentem, que seus impostos diminuam, que seus privilégios sejam eternos.

E você aí, achando que com um e-mail vai se libertar. Vai libertar é o patrão. De você.

Então, presta atenção.

Não é sobre amar sindicato. Não é sobre amar greve. Não é sobre romantizar estrutura nenhuma. É sobre entender que, no jogo do capitalismo, quem não se organiza, apanha. Quem não constrói poder coletivo, é esmagado. Quem não se articula, vira gado. E gado não negocia. Gado aceita o pasto , ou aceita o abate.

Se eles têm federação, confederação, sindicato, lobby, think tank, conselho, grupo de pressão, bancada, frente parlamentar...

Por que caralhos você acha que vai vencer sozinho?

A história tá aí pra te provar. O que te deram hoje não foi liberdade. Foi uma algema dourada, bem polida, com um QR Code pra você escanear e sorrir enquanto aperta seu próprio grilhão.

E aí, bora continuar chamando isso de vitória?

Trago Fatos , Marília Ms. 


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