Tirulipa nos Legendários: a ascensão do “chorume” ao estrelato ou o retrato de um Brasil que normaliza o que deveria ser inaceitável?
“Tô legendário agora!” gritou Tirulipa, com aquele sorriso estampado no rosto e o peito cheio de orgulho. Mas o Brasil que pensa, que se lembra, que cobra e que tem memória crítica, precisa perguntar: desde quando virar “legendário” apaga uma ficha suja de contradições, polêmicas e atitudes que envergonham qualquer senso de responsabilidade pública?
Tirulipa, o humorista herdeiro do carisma de Tiririca, coleciona episódios que mais parecem um roteiro de vergonha alheia do que de humor. E não estamos falando de piadas ruins ou esquetes repetitivas. Estamos falando de apologia ao agressor, de assédio, de apoio a figuras acusadas de crimes graves, de golpes financeiros disfarçados de “entretenimento” e de uma completa ausência de senso ético.
Quando DJ Ivis espancou a própria esposa em vídeos revoltantes e inegáveis, Tirulipa foi às redes socorrer o agressor com palavras de defesa, como se violência doméstica fosse um erro perdoável entre “amigos”. Quando o pastor André Vito foi acusado de assédio infantil, mais uma vez Tirulipa estendeu sua solidariedade ao acusado, e não à vítima. Qual o limite da piada? Qual o limite do companheirismo? Para Tirulipa, o limite parece inexistir , desde que o acusado seja seu conhecido.
Não bastasse isso, o histórico do humorista nas festas também é sombrio. Foi expulso da Farofa da Gkay após ser acusado de assédio , episódio em que ele teria, supostamente numa “brincadeira”, tirado a parte de cima do biquíni de uma participante. Brincadeira para quem? Para ele, talvez. Para as mulheres vítimas, foi violência.
E as redes não esquecem: ele também zombou do corpo de uma modelo em uma montagem grotesca, expondo uma mulher ao ridículo por puro "engajamento". Em pleno século XXI, ainda há quem ache que o corpo da mulher é piada. E mais triste ainda é quando essa risada vem de alguém com milhões de seguidores.
Mas Tirulipa não parou por aí. O riso deu lugar à ganância quando ele começou a divulgar esquemas que hoje são investigados como possíveis golpes. O “Play Premiado” prometia dinheiro fácil por assistir vídeos, e o “Betisord” vendia a ilusão de lucro certo em apostas com um robô mágico. Gente simples, trabalhadora, acreditou. E perdeu dinheiro. Tirulipa ganhou. E se calou. E só falou quando foi convocado a depor na CPI das Bets, onde o Brasil viu que nem todo humorista consegue rir de si mesmo quando a conta chega.
Agora, a cereja do bolo: a entrada para o “Legendários”. Um programa que se pretende um celeiro de talentos, um espaço de relevância artística. Mas o que isso diz sobre nossos critérios de idolatria? A quem estamos premiando com visibilidade nacional? A quem estamos chamando de “lenda”? Um homem que, publicamente, defendeu agressores, expôs corpos femininos, minimizou crimes, participou de divulgações suspeitas e zombou da dor alheia?
Estamos premiando o erro, celebrando a decadência e normalizando o absurdo. Não é sobre Tirulipa “mudar”. Não é sobre “dar uma nova chance”. É sobre reconhecer que, para ocupar o palco da influência nacional, é preciso mais do que fazer palhaçada: é preciso ter caráter, é preciso ter limites, é preciso ter respeito.
O Brasil não pode continuar confundindo carisma com integridade. Não podemos premiar quem representa o oposto do que queremos ver na nova geração de comunicadores. Ser engraçado não é licença para ser irresponsável. E ser “legendário” não pode ser uma alcunha de impunidade.
Tirulipa pode estar nos Legendários. Mas ele ainda não deixou de ser o retrato de um país que precisa urgentemente rever quem está aplaudindo.
Porque o riso que ignora o sofrimento alheio, não é humor. É conivência.
E isso, definitivamente, não é lendário.
Trago Fatos , Marília Ms .
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