Produtividade tóxica: quando até o seu passatempo vira obrigação
Você já percebeu como, hoje em dia, tudo o que fazemos precisa parecer produtivo, bonito, eficiente e, de preferência, com algum tipo de retorno? Até aquilo que era para ser um simples respiro, um hobby, uma pausa da vida corrida… virou mais uma tarefa com meta e cobrança. Um simples passatempo virou um palco de performance. Aquela pintura no livro de colorir, que deveria ser um momento de distração e leveza, se transforma em ansiedade, comparação e frustração. É o que chamamos de produtividade tóxica.
Essa necessidade desenfreada de resultados tomou conta da vida moderna. Não basta mais correr, tem que correr em um tempo recorde e postar no Instagram. Não basta cozinhar, tem que montar um prato digno de MasterChef. Não basta desenhar por prazer, tem que ter técnica, estilo, e milhares de curtidas. E assim, sem perceber, trocamos o prazer pela pressão. O descanso pelo desempenho.
Um hobby, por definição, é uma atividade feita por prazer. Sem cobrança. Sem prazo. Sem expectativa de retorno financeiro ou social. É aquilo que você faz porque resgata uma parte boa de você, porque te acalma, te aproxima da sua essência. Mas, hoje, se você gosta de pintar, logo te perguntam se vai abrir um perfil no Instagram, vender quadros ou dar workshops. Se você toca um instrumento, a expectativa é que grave vídeos, monte uma banda, profissionalize. Se gosta de ler, te perguntam quantos livros por mês, qual o número no Skoob, se já fez resenha. A lógica virou: se não é produtivo, não vale a pena.
Mas será que vale mesmo a pena transformar tudo em performance?
A gente se esquece do valor do amadorismo. Daquela atividade feita com amor, sem técnica, sem obrigação. Do prazer de errar. De fazer feio. De fazer do nosso jeito. Pintar um livro com lápis de cor barato, com rabiscos tortos, com cores que só fazem sentido pra gente. Tocar uma música com duas notas no violão, desafinado. Costurar sem molde. Escrever poesia que ninguém vai ler. Dançar na sala, cantar no chuveiro. Porque isso é humano. Isso é saudável. Isso é libertador.
O problema é que estamos nos tornando reféns da régua alheia. De comparações em redes sociais, de padrões inalcançáveis, de metas que nem eram nossas. A sua criatividade não precisa agradar ninguém. Não precisa ser rentável. Não precisa seguir um padrão estético. Precisa ser verdadeira. Precisa fazer sentido para você, e só para você. O seu hobby não precisa virar um negócio. O seu passatempo não precisa virar vitrine.
Quando transformamos tudo em performance, esquecemos de viver. E viver também é errar. É fazer o que gosta sem ficar bom. É pintar com o que se tem. É resgatar a criança que rabiscava paredes sem culpa. Que criava mundos com papel e lápis. Que não se importava com like, com seguidor, com perfeição. A criança que só queria brincar.
Por isso, respira.
Pega seu livro de colorir. Seu crochê. Sua câmera velha. Sua panela, seu diário. E faz por você. Sem roteiro. Sem monetização. Sem perfeição. Porque um hobby não é para te provar para o mundo. É para te reconectar com você mesmo.
Não se compare com quem está há anos praticando. Não use a régua do outro para medir sua leveza. A régua do outro vai te sufocar. Faça do seu jeito, com o que tem, com o que sente. Viva momentos que não precisam ser compartilhados, apenas sentidos. Porque é aí que mora o verdadeiro descanso. É aí que mora o verdadeiro prazer.
E quando, enfim, a gente se permite fazer algo só porque sim , sem pressa, sem meta, sem vaidade , a gente entende que a produtividade tóxica é uma prisão disfarçada de sucesso. E que o sucesso de verdade é se permitir ser simples. Imperfeito. Livre.
Faça por amor, não por resultado. Faça por você, não pelos outros. Faça com o que tem , desde que seja seu, e não uma exigência mascarada de passatempo.
Trago Fatos , Marília Ms.
Comentários
Postar um comentário