“O santo de casa faz milagre, sim”: Cristian Bell reconhece a força artística de Sergipe e rompe com o estigma da invisibilidade cultural nordestina
Por muito tempo, Sergipe foi colocado , ou melhor, empurrado , para um papel secundário no imaginário cultural do Brasil. O menor estado da federação era visto quase como uma extensão da Bahia, como uma província tímida, que observava de longe os grandes centros do axé, do samba-reggae e da MPB. Mas essa narrativa, alimentada por décadas de centralização cultural e apagamento das identidades periféricas, vem caindo por terra. E quando um baiano, influente, talentoso, com voz ativa nas redes sociais, como Cristian Bell, reconhece e exalta a potência artística sergipana, não é apenas um elogio: é uma reparação histórica.
Cristian Bell, humorista, influencer e compositor natural da Bahia, fez muito mais do que simplesmente mencionar Sergipe em uma de suas falas. Ele reconheceu com respeito, entusiasmo e conhecimento de causa o quanto Sergipe vem se tornando um celeiro de artistas para o Brasil inteiro. Em um vídeo que circulou amplamente nas redes, ele disse com todas as letras: “Na minha visão, nos últimos tempos, Sergipe é o estado que mais exporta artistas para o Brasil”. E não é exagero , é realidade concreta, calcada em nomes que se projetaram nacionalmente como Devinho Novaes, Unha Pintada, Heitor Costa, Nath Suferinha, Nathanzinho Lima, Rafinha o Bom de Verdade e o mais recente fenômeno em ascensão, Mikael Santos.
Bell se refere ao caso de Mikael com especial carinho e admiração. O artista estanciano, com menos de 24 horas de divulgação, já mobilizou uma multidão em sua cidade natal. Isso, para Bell, é sinal de que o santo de casa faz milagre sim, ao contrário do velho ditado popular que costuma minimizar os talentos locais. Em Sergipe, segundo o influenciador baiano, há uma cultura de valorização do artista da terra, e isso é o diferencial: os próprios sergipanos contratam, assistem, promovem e viralizam seus nomes. E, com isso, criam recursos e reconhecimento que ultrapassam fronteiras estaduais.
Essa fala é potente por vários motivos. Primeiro, por romper com uma rivalidade artificial entre Bahia e Sergipe, alimentada por décadas de desinformação, regionalismo tóxico e disputas por protagonismo cultural. Segundo, porque mostra que a visibilidade não precisa vir apenas de Sudeste para o Nordeste, mas também entre os próprios estados do Nordeste, de igual para igual, com respeito mútuo e celebração dos talentos alheios. É um gesto que fortalece toda a região, em vez de nos fragmentar.
Cristian Bell, que também é criador de conteúdo de impacto e representa muito da juventude baiana nas redes, assume uma postura que vai na contramão do bairrismo destrutivo. Ele mostra que não é vergonha nenhuma reconhecer quando o outro estado vizinho está fazendo bonito, pelo contrário, é motivo de orgulho para todo o Nordeste. E o que ele fez foi mais do que reconhecer: ele amplificou. Ao falar de Sergipe para sua enorme base de seguidores, ele ajudou a furar a bolha, a expandir os horizontes de Mikael Santos, e de tantos outros talentos sergipanos que só precisam de oportunidade para brilhar.
É preciso entender a grandeza disso. Por muito tempo, a arte sergipana foi silenciada, preterida até mesmo dentro da própria região. Enquanto nomes do forró, do arrocha, do brega e do pagode da Bahia ganhavam as rádios e palcos, os artistas sergipanos tinham que ralar o triplo para conquistar o mínimo. Mas esse cenário está mudando , e é Sergipe quem está escrevendo essa nova narrativa com sua própria caneta.
E o mais simbólico é que tudo isso parte do menor estado do país. Como bem disse Bell: “Mesmo sendo o menorzinho do Brasil, você tem muitos motivos para se orgulhar”. Porque ser pequeno em território não é ser pequeno em cultura, em potência, em talento. Pelo contrário, talvez seja justamente o tamanho modesto que faz com que a cultura sergipana seja tão rica, tão diversa, tão autêntica e tão profundamente conectada com seu povo.
Cristian Bell fez o que muitos deveriam fazer: tirar os óculos do preconceito e colocar a lente da empatia e da admiração genuína. E a nós, sergipanos, cabe continuar fazendo barulho , com talento, com consistência, com união. Porque santo de casa faz milagre sim. E o Brasil está, finalmente, prestes a testemunhar isso.
Sergipe não é apêndice da Bahia. Sergipe é potência. É lar de artistas que estão ressignificando o cenário musical brasileiro. E é hora de todos reconhecerem isso , sem exceção.
Trago Fatos , Marília Ms.
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