O preço da hereditariedade política e a conjuntura como desculpa: o caso de Breno e Garibalde Mendonça


Vivemos tempos em que o discurso político se camufla com expressões vazias, calculadas e muitas vezes repetitivas. Termos como “conjuntura”, “trajetória limpa” e “portas abertas” são usados como escudos retóricos para evitar posicionamentos firmes, dar respostas evasivas e manter todas as possibilidades de poder sobre a mesa, custe o que custar. O recente pronunciamento do vereador Breno Garibalde (Rede), segundo mais votado de Aracaju em 2022, é um exemplo claro disso.

Ao declarar que “não tem como afirmar se seu pai buscará um oitavo mandato”, Breno parece tentar se desvencilhar de uma responsabilidade política que, direta ou indiretamente, ele carrega: a continuidade da dinastia política dos Mendonça no cenário sergipano. Quando ele afirma que “as portas estão abertas para nós dois”, não está apenas falando de possibilidades eleitorais, está falando da perpetuação de um sobrenome que já se instalou no poder há décadas, como uma raiz que não larga o solo público.

Garibalde Mendonça está no seu sétimo mandato consecutivo. Isso equivale a 28 anos ocupando uma cadeira na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese). Quase três décadas separam seu primeiro mandato da atualidade. Nesse período, o Brasil mudou, Sergipe mudou, o mundo mudou , mas, curiosamente, algumas figuras políticas permanecem fixas como relíquias intocáveis. O uso do termo “trajetória limpa” soa, nesse contexto, como uma tentativa de blindagem moral: como se a ausência de escândalos substituísse a necessidade de renovação política.

Breno, por sua vez, parece repetir os passos do pai, mas com um verniz contemporâneo. Apresenta-se como defensor de “pautas ambientais”, vincula-se à Rede Sustentabilidade , partido historicamente alinhado à causa ecológica ,   e tenta manter ares de modernidade. Contudo, ao deixar escancarada a possibilidade de uma “dobradinha” eleitoral com o pai em 2026, revela que a ideia de “renovação” que propaga não passa de uma reciclagem familiar.

A possibilidade de disputar uma vaga tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara Federal, “dependendo da conjuntura”, é outra pista da ambiguidade programada. Afinal, qual é a prioridade política de Breno? Quais projetos ele tem para o estado? O que o impulsiona: a transformação social ou o desejo de manter o capital político da família? “A conjuntura” serve, aqui, como uma cortina de fumaça conveniente: um termo vago o suficiente para não desagradar nenhum grupo e manter todas as alianças possíveis em aberto.

Outro ponto delicado é sua declaração de que “não se vê fora da Rede Sustentabilidade” e que até cogita “arrastar o pai” para o partido. À primeira vista, parece um gesto idealista. Mas, se olharmos com atenção, percebemos uma tentativa de instrumentalização da legenda como vitrine para angariar votos mais jovens ou progressistas, ao mesmo tempo em que mantém vínculos com um político tradicional de outro partido , o PDT. A pergunta que resta é: o discurso ambientalista de Breno se sustenta diante da realpolitik do seu projeto de poder?

O cenário sergipano não está carente de sobrenomes , está carente de novas ideias. E a insistência em candidaturas hereditárias, travestidas de “conjuntura política”, compromete a saúde democrática de um estado que precisa, urgentemente, de alternância no poder, de sangue novo, de coragem para romper com ciclos familiares que dominam as casas legislativas.

Ao final, o que fica evidente é que Breno Mendonça , ou melhor, Breno Garibalde , não se contenta em ser apenas o segundo mais votado da capital. Ele quer mais. Quer Brasília ou quer o gabinete do pai. Mas o que Aracaju e Sergipe querem é outra história. Uma história que talvez não se escreva com os mesmos sobrenomes de sempre.

Trago Fatos , Marília Ms.

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