“O Brasil vai falir em dois anos!” Mas e as provas, cadê?

 


Vira e mexe, esse grito apocalíptico ecoa pelas redes sociais: "O Brasil vai quebrar!" ou "Em dois anos estaremos arruinados!" E o que espanta não é a frase em si , porque, em um país onde a desigualdade é histórica e os escândalos políticos são semanais, a desconfiança do povo é compreensível , o que espanta é a certeza com que se espalha a catástrofe sem o menor compromisso com dados, fontes, evidências. Uma convicção tão forte que parece religião, mas é só desinformação.

Segundo “especialistas”, dizem por aí, as medidas do atual governo estão levando o Brasil ao colapso financeiro. Mas, espere. Que especialistas? Quais medidas? Onde estão os gráficos, os relatórios, os estudos técnicos? Se isso fosse verdade , e da forma estrondosa como tem sido alardeado , já teria saído no Valor Econômico, na Bloomberg, na Reuters, na Folha, no Financial Times. Teria sido manchete do Jornal Nacional, estaria sendo debatido no Congresso, ecoaria nos mercados internacionais, afetaria o dólar e os juros imediatamente.

Mas não está. E sabe por quê? Porque a afirmação “o Brasil vai falir em dois anos” é, até que se prove com dados robustos, uma peça de desinformação.

Isso não significa que tudo esteja bem. De forma alguma. O Brasil enfrenta sim problemas fiscais sérios, heranças mal resolvidas, desafios no equilíbrio das contas públicas, gargalos estruturais que exigem reformas , principalmente a tributária e a administrativa. O problema não está em criticar o governo. O problema está em confundir crítica com pânico desinformado. O problema está em transformar viés de confirmação em termômetro da realidade.

Se a frase “o Brasil vai quebrar” casa com o que você já acredita, você engole sem mastigar. Você compartilha sem clicar na fonte. Mas se uma informação contrariar suas crenças, você a rejeita, não importa quão embasada seja. E assim se constrói um país doente, não financeiramente, mas intelectualmente.

Um país que acredita que tudo é culpa de um presidente, de um partido, de um plano maquiavélico oculto. Um país que rejeita nuance, odeia contexto e exige culpados prontos para justificar sua indignação. A polarização cria esse ambiente: você ou está com os "bons", ou está com os "malditos". Não há espaço para análise, só para torcida.

E o mais grave: as fake news estão, sim, influenciando diretamente a política nacional. Medidas importantes já foram desfeitas por pressão popular alimentada por boatos. As redes sociais, onde deveriam florescer debates democráticos, viraram campos de guerra entre verdades convenientes. E o cidadão comum? Segue sendo usado como massa de manobra.

Veja: se o governo anuncia um imposto sobre fundos de super-ricos e isso vira, num grupo de WhatsApp, uma mentira de que “vão tributar tudo o que você tem”, a população se revolta contra algo que nem sequer foi proposto. E a pressão pública, baseada em desinformação, paralisa políticas públicas que poderiam corrigir injustiças históricas.

Sim, critique o governo. Sempre. Seja ele qual for. Isso é saudável. Isso é democrático. Isso é necessário. Mas critique com base em fatos. Estude os números, analise os contextos, ouça economistas sérios — e sim, eles divergem entre si, porque a economia não é uma ciência exata. Mas não acredite em mensagens alarmistas que não explicam nada, que não contextualizam nada, que apenas jogam medo no seu colo e esperam que você o distribua por aí.

A economia brasileira não é um castelo de cartas que desmorona com um sopro. Ela é um organismo complexo, com deficiências sim, mas também com resistências. O Brasil tem um mercado interno forte, reservas internacionais altas, instituições ainda razoavelmente sólidas e mecanismos de controle que não existem em regimes ditatoriais. Se há risco de colapso, ele vem de dentro, de uma população que desiste de pensar criticamente e escolhe acreditar no que dá mais curtidas.

E enquanto você acredita que o Brasil vai falir por causa de uma postagem de três linhas com emoji de sirene vermelha, os verdadeiros inimigos seguem lucrando com sua ignorância. A grana continua escoando para os paraísos fiscais, os privilégios seguem intocados, os projetos de lei passam sem resistência , porque você estava ocupado lutando contra fantasmas criados pela desinformação.

A democracia só se sustenta com uma população que duvida de tudo , inclusive de si mesma. Que questiona, que pesquisa, que admite quando erra. A crise brasileira pode ser política, econômica, social , mas antes de tudo, ela é uma crise de pensamento. E se não revertermos isso, a falência que virá não será do país. Será da nossa capacidade de discernir o que é verdade e o que é mentira.

Aí sim, estaremos todos falidos. E nem vamos perceber.

Trago Fatos , Marília Ms.

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