Márcio Macêdo e o erro estratégico do PT em Sergipe: quando o entusiasmo pela aliança esvazia o protagonismo político




Desde a derrota do PT nas eleições estaduais de 2022, Márcio Macêdo tem se apresentado como o maior entusiasta de uma reaproximação com o grupo de Fábio Mitidieri (PSD). Enquanto Rogério Carvalho busca manter alguma coerência ideológica à frente do projeto petista em Sergipe, Márcio, hoje ministro no governo Lula, atua como uma espécie de elo informal entre o PT e a base governista, pavimentando uma possível aliança para 2026. Mas o que parece ser, à primeira vista, um gesto de pragmatismo político, esconde um erro de cálculo que pode custar caro ao próprio Márcio , e, mais grave, ao PT em Sergipe.

Com ambições de disputar o Senado ou uma vaga de vice-governador, o ministro tem apostado todas as fichas em sua proximidade com o grupo de Fábio. O problema é que essa aposta não considera a lógica política que rege alianças como essa: quem chega por último à mesa, sem capital político nem densidade eleitoral, não define o cardápio. Define-se como acessório. E acessórios são descartáveis.

A utilidade de Márcio Macêdo para o governo Mitidieri hoje se limita a um papel: esvaziar a oposição de esquerda. É um agente funcional para um projeto que visa manter o controle do Estado sob um guarda-chuva de alianças amplas, mas sem compromisso com pautas progressistas. Ele cumpre esse papel com afinco, enfraquecendo adversários internos e externos. Mas, quando (e se) a aliança se formalizar, essa função se esgota. E com ela, a importância estratégica de Márcio.

Além disso, há o fator eleitoral. A verdade nua e crua é que Márcio Macêdo não tem a mesma força nas urnas que outros nomes cogitados para cargos majoritários. Nunca foi campeão de votos, e, em disputas passadas, ficou atrás de quadros como João Daniel dentro do próprio PT. Se o critério para compor a chapa governista em 2026 for densidade eleitoral, experiência executiva ou influência regional, Márcio será facilmente preterido por nomes como André Moura, Alessandro Vieira, Edvaldo Nogueira ou Laércio Oliveira.

Mais preocupante é o que Márcio tem feito com o próprio PT. Em vez de liderar um processo de reorganização da oposição, consolidando o partido como força crítica e alternativa ao projeto de governo vigente, ele optou por implodir o espaço petista em nome de uma aproximação que o marginaliza. Ao sabotar a oposição, diminuiu o capital político da legenda e a capacidade de negociação do PT em futuras eleições. Hoje, o partido só consegue assegurar , com esforço , a recondução de Rogério Carvalho ao Senado. E nada além disso.

Se tivesse coragem e visão estratégica, Márcio Macêdo poderia ter assumido o protagonismo da oposição, lançado sua candidatura ao governo em 2026, e feito do pleito uma arena de reafirmação do PT como alternativa política em Sergipe. Mesmo com uma possível derrota, manteria o partido vivo e atuante, pavimentando o caminho para 2030 com mais dignidade, peso político e capital eleitoral. Em vez disso, escolheu o papel de coadjuvante em uma aliança que nem sequer lhe garante lugar fixo.

A política é feita de gestos e símbolos. Márcio escolheu o gesto da submissão e o símbolo da conveniência. No curto prazo, pode colher cargos e sorrisos. No longo prazo, tende a ser lembrado como alguém que errou de estratégia, de tempo e de lado.

Trago Fatos , Marília Ms.

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