Lobos em Pele de Coach




É preciso acender o alerta contra os lobos em pele de cordeiro , ou melhor, contra os coachs de Instagram, que se autointitulam especialistas em saúde, bem-estar e estética, mas sequer possuem formação em Nutrição, Educação Física ou Medicina. Vendem fórmulas mágicas, pacotes de emagrecimento, desafios milagrosos e dicas que, além de rasas, podem comprometer não apenas o corpo, mas a sanidade mental de quem as segue.

Entre os nomes que mais representam esse fenômeno do desserviço digital está Mayra Cardi Nigro. Influencer, socialite e ex-mulher do ex-BBB Arthur Aguiar , mais conhecido por suas polêmicas do que por qualquer contribuição cultural , Mayra personifica o que há de mais perigoso nesse universo de autoajuda fitness sem responsabilidade. Seu nome já esteve envolvido em inúmeras controvérsias, inclusive pelo uso de métodos questionáveis e promessas irreais em programas voltados ao emagrecimento.

Como se não bastasse, até sua filha, ainda pequena, foi envolvida em polêmicas ao ser gravada zombando de um funcionário por não possuir um iPhone, o que escancarou o ambiente tóxico que muitas vezes se esconde atrás de mansões, filtros e discursos de positividade.

É fundamental refletir: até que ponto estamos normalizando a ascensão de vozes que, sem preparo técnico nem ética, lucram com a fragilidade emocional e a insegurança corporal de milhares de pessoas? Até que ponto o culto ao corpo perfeito justifica o abandono do bom senso e da responsabilidade social?

Coach sem qualificação não é conselheiro, é um risco. E o bem-estar não se alcança com vídeos motivacionais, mas com ciência, respeito e consciência crítica.
Estamos vivendo uma era em que o número de seguidores passou a valer mais que diplomas, em que a retórica convincente é mais valorizada do que evidências científicas, e em que influencers, com seu carisma polido e roteirizado, se travestem de especialistas para vender promessas embaladas com um laço de autoestima , mesmo que, na prática, estejam vendendo culpa, ansiedade e frustração.

O mais preocupante é que, enquanto profissionais de verdade estudam anos, passam por estágios, residências e exames rigorosos, esses gurus do bem-estar constroem impérios lucrativos sobre a desinformação e o desespero alheio. São capazes de ditar dietas restritivas a mães cansadas, prescrever jejuns a adolescentes vulneráveis e afirmar que sofrimento é “parte do processo” , como se adoecer fosse apenas um colateral aceitável em nome de um corpo ideal.

E isso tudo sob aplausos e curtidas, enquanto o algoritmo premia a estética e ignora a ética.

Mayra Cardi, nesse cenário, é só a ponta de um iceberg. Há centenas de outros nomes, menos famosos, mas igualmente perigosos, espalhados pelas redes. Pessoas que transformam suas jornadas pessoais em métodos universais, esquecendo que o que serve para um pode destruir o outro. Vendem-se como salvadores, mas são apenas comerciantes de insegurança com um bom plano de marketing.

E o que dizer de quem consome esse conteúdo? Não podemos apenas culpar os produtores de desinformação sem também olhar para quem a consome de forma acrítica. A ausência de políticas públicas de educação em saúde, de alfabetização digital e de incentivo ao pensamento crítico contribuem para esse cenário. Vivemos em um país onde boa parte da população não tem acesso a nutricionistas ou psicólogos, mas tem acesso irrestrito à internet , e isso,faz com que qualquer pessoa com uma boa câmera e uma mensagem chamativa tenha o poder de influenciar e, muitas vezes, prejudicar a vida de outras.

Esses coachs e influenciadores formam um mercado onde a superficialidade reina, criando um culto ao corpo perfeito e à busca incessante por um "resultado rápido". A promessa de mudanças imediatas, de fórmulas mágicas para emagrecer, ganhar músculo ou melhorar a saúde mental em apenas algumas semanas, é um discurso que alimenta a ansiedade, a frustração e, muitas vezes, leva a caminhos perigosos. O problema não é o desejo de melhorar, mas como isso é vendido: como uma solução simplista para problemas complexos.

Em um país como o Brasil, onde os índices de obesidade aumentam a cada ano e as doenças relacionadas à alimentação desequilibrada e à falta de atividade física são uma preocupação crescente, os discursos de "siga o meu método" ou "faça o que eu fiz" acabam se tornando armadilhas disfarçadas de conselhos. Como se cada corpo fosse igual, cada histórico de vida fosse idêntico e a saúde fosse uma simples questão de disciplina e força de vontade. Mas não é.

A realidade é que a saúde é multidimensional. Ela envolve fatores genéticos, ambientais, psicológicos, sociais e até culturais. A equação para o bem-estar não é algo que pode ser reduzido a um simples vídeo de 30 segundos com uma promessa de transformação. É preciso de profissionais capacitados, acompanhamento individualizado e, principalmente, respeito à saúde mental, que é muitas vezes ignorada nesse mercado bilionário do "bem-estar".

Além disso, há um risco sério em criar um culto ao "emagrecimento a qualquer custo" ou à aparência física como única medida de sucesso. Não se pode desconsiderar o impacto disso nas pessoas, que, ao se submeterem a dietas malucas e regimes radicais, acabam piorando sua saúde física e emocional. E quem lucra com isso? Aqueles que vendem a ilusão de que existe uma fórmula mágica para a felicidade, para o corpo perfeito e para a vida sem problemas.

Mayra Cardi e outras figuras similares, com suas práticas de pseudo-terapia de emagrecimento, são apenas os rostos mais visíveis de um sistema que está cada vez mais distante das necessidades reais da população. A exaltação do corpo idealizado e a busca por padrões de beleza que são inatingíveis e muitas vezes prejudiciais são apenas sintomas de uma sociedade obcecada pela perfeição, sem perceber os danos que isso pode causar.

A verdadeira transformação começa com a educação e com o conhecimento. E é por isso que, ao invés de seguir conselhos duvidosos e promessas vazias, deveríamos estar investindo na capacitação de profissionais da saúde e no incentivo à autoestima genuína. O caminho para a saúde e bem-estar não está em modismos ou dietas milagrosas, mas em escolhas informadas, equilibradas e sustentáveis.

O verdadeiro trabalho de um coach ou influenciador não deveria ser vender soluções prontas, mas sim incentivar as pessoas a buscar a orientação adequada, a refletir sobre suas escolhas e a se cuidar de forma integral e responsável. Afinal, saúde não é um produto que se compra , é uma construção que se faz com conhecimento, com cuidado e com respeito pelo próprio corpo e mente.

Trago fatos, Marília Ms. 

Comentários

Matérias + vistas