Liberdade de expressão ou liberdade de lucrar? A hipocrisia das big techs e a ilusão vendida aos pobres brasileiros

Nos tempos em que “postar” virou profissão e que a opinião é mais valiosa do que o conhecimento, estamos sendo guiados , ou melhor, manipulados , por estruturas invisíveis que fingem ser defensoras da liberdade, da inovação e da autonomia individual. Mas por trás das cores suaves, slogans libertários e plataformas “gratuitas”, as big techs não estão nem um pouco interessadas na sua liberdade de expressão. O que elas realmente defendem, com unhas, dentes e algoritmos, é a disseminação descontrolada de qualquer tipo de conteúdo , mesmo que mentiroso, criminoso, destrutivo ou perigoso , desde que isso gere lucro. Muito lucro.

As gigantes da tecnologia, que vão desde redes sociais até mecanismos de busca e streaming, construíram verdadeiros impérios sobre um terreno frágil e manipulável: a atenção humana. Elas aprenderam a precificar cada segundo de tempo que você passa rolando a tela, reagindo, comentando e consumindo. E qual o conteúdo que mais prende? A polêmica. A violência. O escândalo. O ódio. A mentira disfarçada de opinião. A pornografia disfarçada de liberdade sexual. O extremismo político embrulhado como "debate democrático". Quanto mais emocional, impulsivo e polarizador o conteúdo, mais lucrativo ele se torna para quem comanda os algoritmos.

Por isso, não se engane: essas empresas não estão comprometidas com a sua liberdade de expressão. Elas só fingem estar. Se houvesse um real comprometimento com os valores democráticos, elas investiriam pesado em moderação humana de conteúdo, em transparência algorítmica, em ações educativas e em políticas efetivas contra discursos de ódio, fake news e crimes virtuais. Mas o que vemos é o oposto: elas terceirizam a responsabilidade, dizem que “não conseguem controlar tudo”, e colocam a culpa nos usuários, enquanto seus lucros atingem cifras bilionárias a cada trimestre.

E aqui no Brasil, esse processo de manipulação se acopla com um outro problema crônico: a desvalorização planejada da segurança trabalhista, vendida como “liberdade empreendedora”. Uma elite econômica e midiática , branca, rica e herdeira ,passou a convencer a juventude pobre, preta e periférica de que o caminho para o sucesso não está na educação formal, nem no concurso público, nem no emprego estável com direitos garantidos. Segundo essa narrativa, o bom é “ser o seu próprio patrão”, “viver de publi”, “ganhar dinheiro dormindo”, “vender curso para vender curso” ou, pior, virar “influenciador independente”, mesmo que isso signifique não ter plano de saúde, não ter 13º, não ter férias, não ter estabilidade e depender das migalhas dos algoritmos.

Essa lavagem cerebral social é tão bem feita que vemos, hoje, jovens de comunidades defendendo a informalidade com orgulho, demonizando a CLT como “prisão” e achando que ser contratado com carteira assinada é sinônimo de fracasso. Enquanto isso, os grandes empresários, banqueiros e donos das próprias big techs contratam com todos os benefícios possíveis, asseguram seu futuro em paraísos fiscais e riem da ingenuidade de quem acredita que “liberdade” é abrir uma MEI e virar refém de engajamento.

O que estamos vivendo é um novo tipo de escravidão digital, onde o senhor não usa mais chicote, mas sim um gráfico de alcance e um botão de impulsionamento. Onde o trabalhador não é mais explorado dentro da fábrica, mas sim dentro da própria casa, escravo da própria imagem, da própria rotina, da própria audiência. O conteúdo virou produto. A dor virou cliques. E a ignorância virou lucro.

É urgente repensarmos o que estamos consumindo, quem estamos idolatrando e qual liberdade realmente queremos. Liberdade de expressão sem responsabilidade é libertinagem digital. E “empreender” sem segurança é só precarização com maquiagem de autonomia.

As big techs não são suas aliadas. A elite brasileira não quer ver o pobre crescendo , quer ver o pobre distraído. E enquanto o trabalhador sonha com o próximo viral, a realidade vai ficando cada vez mais hostil para quem ainda acredita que sucesso sem estrutura é só mais uma mentira bonita da internet.

Trago Fatos, Marília Ms.

Comentários

Matérias + vistas