Lady Gaga, investimentos públicos e o que (quase) ninguém entende sobre economia



“Esse dinheiro deveria ter sido investido em saúde!”
“Era melhor ter gastado com educação do que trazer essa mulher pro Brasil!”

Essas são algumas das frases que ecoam nas redes sociais sempre que um grande artista internacional é anunciado em algum show financiado ou apoiado por verbas públicas. Mas será que faz sentido essa crítica? Antes de levantar a placa do cancelamento, é preciso entender um conceito básico sobre gestão pública e economia: ações diretas e benefícios indiretos.

Cada dinheiro é um dinheiro

Primeiramente, é importante saber que, na maioria dos casos, o dinheiro da educação não pode ser usado na saúde. E o da saúde, não pode ser usado no turismo. Cada área do setor público tem seu próprio orçamento, com verbas específicas. Ou seja, quando um município ou estado investe dinheiro para trazer um grande show, esse dinheiro normalmente vem da pasta do turismo, da cultura ou do desenvolvimento econômico, e não da saúde ou educação.

Mas o que é ação direta e benefício indireto?

Vamos imaginar que você é prefeito de uma cidade que sobrevive basicamente do turismo. Nos períodos de férias , dezembro, janeiro, julho , tudo funciona a mil: hotéis cheios, restaurantes movimentados, ambulantes vendendo, economia girando. Mas e nos meses "mortos"? Março, abril, agosto, setembro…? O que fazer para não deixar a cidade parar?

É aí que entra a ideia de uma ação direta: trazer um grande show para a cidade em um desses meses de baixa temporada. Isso atrai turistas, lota hotéis, movimenta restaurantes, gera empregos temporários, aquece o comércio e a economia local. Isso é o benefício indireto.

O dinheiro usado para trazer o show retorna multiplicado para os cofres públicos através do aumento na arrecadação de impostos e do giro econômico. E o melhor: esse retorno pode ser reinvestido justamente em saúde, educação, segurança e outros setores essenciais.

Economia popular também funciona assim

Vamos pegar um exemplo mais próximo: o Bolsa Família. Muita gente acha que o programa “só dá dinheiro”, mas ignora que ele movimenta a economia local. Beneficiários compram no mercadinho da esquina, na farmácia do bairro, na feira da vizinha. Esse dinheiro não sai do Brasil, ele circula e sustenta pequenas economias, gerando emprego e renda em áreas periféricas. Isso também é uma ação direta com benefícios indiretos.

Tudo está conectado

A lógica é simples: quem trabalha, consome mais. Quem consome, fortalece o comércio. O comércio compra do fornecedor. O fornecedor gera empregos. O emprego gera renda. A renda gera dignidade. E a dignidade sustenta uma sociedade mais justa. O investimento em grandes eventos, quando bem planejado, faz parte dessa cadeia econômica.

Então da próxima vez que você ouvir alguém dizendo que “era melhor ter usado esse dinheiro em hospital”, pergunte com carinho:
— Mas esse dinheiro era do hospital? Ou era da cultura e turismo?
— E se o investimento cultural for o que permite o hospital funcionar melhor lá na frente?

A economia é uma engrenagem complexa. Nem tudo que parece desperdício é. Muitas vezes, o que parece fútil aos olhos desatentos, é o que move milhares de famílias silenciosamente.

Trago Fatos , Marília Ms.

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