Hipocrisia em recesso: os deputados que rejeitaram a PEC da escala 6x1 e vivem de folga
Imagine você, trabalhador brasileiro, que acorda todos os dias às 5h da manhã, pega ônibus lotado, enfrenta horas de trânsito, cumpre jornada exaustiva de trabalho, muitas vezes com apenas um domingo de folga por semana. Agora, imagine que deputados federais , que ganham mais de R$ 41 mil por mês, além de uma série de benefícios , rejeitaram sequer discutir uma Proposta de Emenda à Constituição que poderia garantir uma folga semanal digna aos trabalhadores sob regime 6x1. Pior: eles próprios estão longe de cumprir uma rotina mínima de trabalho.
Os dados sobre a atuação parlamentar de alguns desses deputados são revoltantes. Vamos aos números, que escancaram o abismo entre a realidade do povo e os privilégios de quem deveria representá-lo:
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Nicolás Ferreira (PL-MG): Trabalhou apenas 107 dias em 2024. Teve impressionantes 179 dias de folga. Ainda assim, somou 12 faltas justificadas e 18 sem justificativa. Em outras palavras, mais da metade do ano fora do plenário, mesmo sendo uma das vozes mais midiáticas do Congresso.
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Eduardo Bolsonaro (PL-SP): Cumpriu jornada em apenas 80 dias e se ausentou em 209 dias , quase 70% do ano. Teve 19 faltas com justificativa e 8 sem. Mesmo assim, vive criticando “vagabundos” e pregando moralidade com o dinheiro público.
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Gustavo Gayer (PL-GO): Estava presente 99 dias, mas tirou 184 de folga. Justificou 12 ausências e faltou 21 vezes sem justificativa. É um dos que mais se posicionam contra “direitos trabalhistas que pesam no bolso do empresário”, mas não hesita em faltar sem explicação.
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Tiririca (PL-SP): Trabalhou apenas 68 dias no ano inteiro. Teve 231 dias de folga. Não há justificativas informadas para algumas ausências, e ainda somou 20 faltas sem justificativa. O palhaço está oficialmente fora do picadeiro, mas segue fazendo do Congresso um palco.
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Marco Feliciano (PL-SP): Foi um dos que mais compareceram, com 163 dias presentes, mas mesmo assim, somou 118 dias de folga e teve 23 faltas justificadas. Quase um terço do ano longe do Parlamento.
O que está em jogo na PEC da Escala 6x1
A Proposta de Emenda à Constituição previa garantir folga semanal obrigatória para trabalhadores sob o regime 6x1 , que hoje, por manobras jurídicas e brechas na CLT, acaba sendo burlado em muitas categorias. Muitos profissionais trabalham 12 dias seguidos para folgar apenas um. A PEC tentava devolver a dignidade mínima de descanso a quem sustenta a economia real. E, ironicamente, os mesmos deputados que se beneficiam de longos recessos, recesso branco, recesso parlamentar, feriados prolongados e folgas sem justificativa, negaram apoio à pauta.
Essa incoerência não é apenas imoral. Ela é criminosa diante do cenário social do Brasil. Enquanto o trabalhador sofre com doenças psicossomáticas, exaustão, burnout e acidentes por excesso de jornada, parlamentares descansam em casa com salários gordos, viagens pagas, carros oficiais e auxílio-moradia.
A lógica perversa da representatividade distorcida
A distância entre o discurso e a prática é gritante. Muitos desses deputados que rejeitaram a PEC da folga são os mesmos que se dizem defensores da “família brasileira” , mas negam a possibilidade de um pai descansar com seus filhos no domingo. Pregam o “trabalho duro”, mas gozam de férias prolongadas sem cumprir nem metade da carga mínima de presença. Criticam o “assistencialismo”, mas vivem de um sistema que assiste seus luxos com o dinheiro do povo.
Folga para uns, fadiga para outros
O problema aqui não é apenas a ociosidade desses parlamentares. É o simbolismo. O recado que se passa é: “Você, trabalhador, tem que suar até quebrar. Nós, representantes do povo, descansamos enquanto você trabalha.” É o retrato perfeito de uma elite política que se descolou da realidade, que virou as costas para a massa que acorda cedo, anda quilômetros, almoça em marmita fria e ainda escuta que precisa “produzir mais”.
A matemática da desigualdade
Vamos somar: 107 dias de trabalho (Nicolás Ferreira) representam menos de 30% do total de dias úteis do ano. E, mesmo assim, ele recebe integralmente seu salário e benesses. Agora pense: quantos trabalhadores foram demitidos por faltarem menos de 10 dias em um mês? Quantos pais de família foram punidos por atrasos de 15 minutos? Quantas mães perderam o emprego por faltarem um dia para levar o filho doente ao hospital?
O povo precisa cobrar , e lembrar
Esses números precisam ser lembrados nas urnas. Deputado não é celebridade. Não está lá para fazer vídeo ou live. Está lá para legislar, defender direitos, criar políticas públicas. Se não trabalham, se faltam, se são coniventes com o abuso da jornada do trabalhador comum, não podem ocupar cargos públicos.
Enquanto houver folga para deputados e fadiga para o povo, a democracia brasileira continuará mancando. E pior: continuará sendo uma farsa sustentada por quem deveria representar, mas prefere descansar.
Se o Brasil quer mudar, precisa começar pela cobrança. Afinal, descanso é direito , mas só se for para todos.
Trago Fatos , Marília Ms .
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