Diversidade não é caridade , é sobrevivência. E o capitalismo não quer saber.
Roupa para pessoa gorda é cara. Cuidar de cabelo crespo ou cacheado custa caro. Não é só estética, é consumo. E consumo é privilégio. Porque nesse sistema, o mercado não quer saber do seu corpo , só do seu bolso.
Estamos num país onde o racismo é estrutural, histórico e atravessa todas as esferas da vida. E ainda assim, em pleno século XXI, perguntam para a dona de um banco, no Roda Viva, o que ela vai fazer para contratar negros. Como se fosse da responsabilidade dela, como banqueira, reverter séculos de exclusão, violência e desigualdade. Como se ela fosse uma Princesa Isabel 2.0 com cartão black no bolso.
Cristina Junqueira não tem terreiro, nem centro comunitário. Ela é dona de um banco digital , o Nubank. E banco, meus caros, não existe para promover justiça social. Existe para lucrar. Existe para cobrar juros. Existe para fazer leilão de imóvel e colocar famílias na rua. É esse o papel da instituição que agora querem transformar em símbolo de diversidade?
É preciso voltar ao óbvio: empresa não é ONG. Empresa não é ação entre amigos. Empresa é uma máquina feita para moer gente, maximizar lucro e cortar custo. Inclusive, custo com papel higiênico. Inclusive, custo com diversidade.
Porque é isso que está acontecendo, e quem está prestando atenção já percebeu: a pauta da diversidade virou custo. E em tempos de crise, tudo que não dá retorno imediato vira corte. Foi assim no Facebook. Foi assim no McDonald’s. Foi assim na Basf. E será assim em muitas outras.
O Nubank, que até pouco tempo era símbolo da “nova economia”, da “revolução bancária digital”, agora é só mais um banco , com marketing descolado, avatar roxinho e práticas tão cruéis quanto as da velha guarda. Dívidas que se multiplicam como praga. Atendimentos automatizados que desumanizam. Crédito para quem tem nome limpo. E quem não tem, que se vire.
E ainda há quem ache que o problema é a militância.
O problema, amigos, é acreditar que a solução para a desigualdade está no setor privado. É acreditar que a “diversidade no mercado de trabalho” é a chave da transformação social. Que uma vaga de emprego preta resolve o racismo. Que um departamento de inclusão compensa a falta de políticas públicas. Que pintar um comercial com gente preta é sinônimo de reparação histórica.
Mas o que estamos vendo é só maquiagem. É uma empresa gastar R$ 150 mil reais para contratar uma única mulher negra ,que passa por branca se alisar o cabelo , e dizer que está “fazendo sua parte”.
Isso não é inclusão. Isso é performance.
E não adianta culpar só o Trump, ou a extrema-direita. É preciso encarar que o capitalismo usa a pauta da diversidade como enfeite de vitrine quando está em alta. Mas na primeira dificuldade, ele desmonta a vitrine, apaga o arco-íris, e volta a operar do jeito que sempre operou: com exploração e exclusão.
Sim, vivemos um período breve em que o mercado fingiu que se importava. Em que contratava especialistas em diversidade, organizava palestras, fazia campanha com drag queen no Dia do Orgulho, com modelo gorda na Semana da Mulher Negra. Mas bastou a maré virar, bastou o lucro cair, e todos esses compromissos evaporaram.
Porque o racismo não é apenas uma falha do sistema. Ele é parte do motor.
Se não houver negros fluentes em inglês, não importa. Se as mulheres não puderem pagar para manter o cabelo em dia, não importa. Se os corpos gordos não se encaixarem nas roupas da loja, não importa. O mercado não está aqui para resolver isso. Ele está aqui para lucrar com isso.
E se houver desemprego, ótimo: alguém com fome vai aceitar trabalhar por menos. E isso também movimenta o lucro.
Não é o empresariado que vai salvar o Brasil. E muito menos o empresariado bancário.
A gente precisa parar de procurar redenção onde só existe interesse. Diversidade que depende de planilha de Excel não é compromisso , é custo. E custo se corta.
O que está em jogo não é só representação. É estrutura. E estrutura não se muda com ação de marketing. Se muda com política pública. Com escola de qualidade. Com saneamento. Com saúde básica. Com transporte. Com cotas. Com redistribuição de renda. Com taxação de grandes fortunas.
Enquanto isso, seguimos vendo dívidas virarem um milhão, cabelo cacheado virar gasto de luxo e roupa para gordo custar o dobro. Seguimos vendo empresas cortarem seus setores de diversidade enquanto mantêm bônus milionários para executivos.
E a pergunta que fica é: até quando a gente vai cair no conto da diversidade como produto?
Trago Fatos , Marília Ms .
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