Como funciona o racismo no Brasil :Dois brasileiros. Dois destinos. Dois pesos. Duas medidas.
Deixa eu te mostrar como funciona o racismo no Brasil , não o racismo do livro didático, nem o que se mascara por trás da falsa ideia de cordialidade. Mas o racismo que mata em silêncio, que perdoa os ricos, branqueia os erros de quem tem dinheiro e faz questão de punir com crueldade quem carrega no corpo a cor da pele errada para o sistema.
Essa aqui é a Virgínia.
Mulher branca, loira, rica, influenciadora digital, empresária.
Ficou famosa vendendo produtos sem registro e sem entrega.
Lucrou milhões com maquiagem, roupas, chás e promessas.
Agora, seu nome está no meio da CPI das apostas esportivas , as chamadas "Bets" , um esquema que destrói famílias, alimenta o vício de jovens e lucra com o desespero de quem sonha em ficar rico do dia pra noite.
Mesmo diante de acusações sérias, provas de envolvimento e ganhos milionários, ela foi chamada à CPI como testemunha, não como ré.
Foi recebida com aplausos, tietagem e sorrisos.
Teve espaço para levantar a voz, chorar, pedir desculpas públicas, continuar sendo seguidora por milhões.
Seu rosto não foi estampado nos jornais como símbolo de crime.
Ela não foi algemada.
Ela não foi ameaçada.
Ela continua milionária.
Agora ,o o Vitinho Serqueira , um homem negro , jovem, trabalhador.
Guia turístico em Caraíva, sul da Bahia, amava a terra onde nasceu, onde mostrava o Brasil aos estrangeiros. Durante uma operação policial, a PM invadiu sua cidade como quem entra em um território inimigo. Ele não fugiu.
Ele ficou para proteger os turistas, porque sabia o que acontece com quem tem a pele como a dele quando a polícia chega armada.
Foi levado pela PM, sequestrado, torturado e assassinado.
Sem provas.
Sem julgamento.
Sem voz.
Dois dias antes, ele havia denunciado um crime de injúria racial na delegacia , talvez achando, ingenuamente, que a justiça era para todos.
Seu corpo foi parar no IML, sua história foi calada, seu nome virou estatística.
Não houve rede de apoio.
Não houve manchete em horário nobre.
Não houve segunda chance.
Essa é a cartilha não oficial do racismo à brasileira.
Não está escrita em lei, mas está impressa na pele de quem nasce preto, pobre e periférico.
Está no julgamento midiático, na ausência de defesa, na violência estatal que continua a ser seletiva.
Enquanto uns têm o direito de errar e se redimir diante das câmeras, outros não têm sequer o direito de serem ouvidos.
Não é só sobre o que fizeram ou deixaram de fazer.
É sobre quem fez.
É sobre de onde veio.
É sobre quanto dinheiro tem.
É sobre a cor da pele.
O Brasil é um país que perdoa o erro de uma influenciadora branca, mas pune com a morte a existência de um homem negro.
É um país onde o tráfico de influência pode virar negócio, mas a suspeita de envolvimento vira sentença de morte quando o acusado é preto e pobre.
A justiça aqui não é cega.
Ela enxerga muito bem.
Enxerga quem vale a pena defender, e quem pode ser descartado.
Enxerga quem merece aplausos e quem merece ser silenciado.
Enxerga quem pode lucrar em cima da dor alheia, e quem, ao lutar contra a injustiça, será executado como inimigo.
Vitinho não teve a chance de se explicar.
Não teve CPI.
Não teve audiência.
Não teve perdão público.
Teve só a brutalidade de um sistema que não o reconheceu como cidadão.
E isso não é exceção.
É regra.
É política de Estado.
É a continuidade de um projeto que nunca foi interrompido desde os tempos da escravidão.
O Brasil nunca precisou legalizar o apartheid , ele o pratica diariamente nos becos, nas vielas, nas favelas, nas abordagens policiais, nos julgamentos sem juiz, nas mortes sem manchete.
Se o nome de Virgínia é tendência no Instagram, o de Vitinho deveria ser gritado nas ruas.
Mas o silêncio em torno da morte dele é o mesmo que sufoca tantas outras vozes negras todos os dias.
Vidas que não importam para o algoritmo, que não dão audiência, que não geram cliques , a não ser quando estampam o rosto como suspeitos, não como vítimas.
Deixa eu te mostrar como funciona o racismo no Brasil?
É assim:
Um erra, lucra e continua.
O outro tenta viver, e morre.
Vitinho merece justiça.
Sua família merece resposta.
Sua história não pode ser esquecida como se fosse mais uma.
Porque enquanto a gente continuar normalizando que brancos ricos têm o benefício da dúvida e negros pobres recebem a pena de morte sem julgamento, não há democracia, não há justiça, não há país.
Justiça por Vitinho. Justiça por todos os que tombaram no silêncio.
E pelo fim do racismo de Estado.
Trago Fatos, Marília Ms.
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