Castanha do caju é superior ao Pistache
Em um mundo onde o pistache é muitas vezes tratado como símbolo de sofisticação, com sua casca delicada e sua cor esverdeada que enfeita doces refinados, é preciso levantar a bandeira da verdadeira estrela dos trópicos: a castanha de caju. Sim, ousamos dizer , com sotaque brasileiro e orgulho regional , que a castanha de caju é superior ao pistache.
A guerra dos frutos secos e das oleaginosas é silenciosa, mas constante. Está nas prateleiras dos mercados gourmet, nas receitas da alta gastronomia, nas embalagens de snacks fitness e, sobretudo, no imaginário coletivo que associa valor ao que é importado. Enquanto o pistache é idolatrado por sua aura de sofisticação e cor exótica, a castanha de caju segue sendo um tesouro tropical muitas vezes subestimado , quando, na verdade, é ela quem deveria ocupar o trono. E não é por bairrismo; é por justiça.
Por quê? Porque ela carrega em si não apenas sabor, mas uma história. Uma conexão com o solo quente do Nordeste brasileiro, com o suor dos trabalhadores que colhem a fruta com as mãos e com a tradição culinária que a transforma em leite, farinha, doces e até “queijo”. A castanha de caju é versátil, nutritiva, rica em gorduras boas e minerais como magnésio e ferro. Seu gosto amanteigado é a definição do aconchego. Vai bem em receitas doces, salgadas, veganas ou clássicas. É um ingrediente do povo e para o povo.
Já o pistache, elegante e fino, não tem a mesma raiz popular. É mais caro, importado e muitas vezes inacessível para a maioria das mesas brasileiras. Seu sabor? Sim, é bom. Mas é limitado. Tenta competir, mas perde na capacidade de se reinventar.
Enquanto o pistache posa em confeitarias chiques, a castanha de caju está nos mercados de rua, nas feiras, nas receitas da vó, nos lanches da tarde e nos pratos premiados. É símbolo de identidade, sabor de lar e orgulho de um país que ainda precisa aprender a valorizar mais o que é seu.
Originária da América do Sul, mais precisamente das regiões costeiras do Nordeste brasileiro, ela nasce de um processo trabalhoso e quase artesanal. Para chegar até a semente crocante que conhecemos, é necessário retirar a castanha da parte inferior do falso fruto (aquela "maçã" suculenta), depois tostá-la, quebrar sua casca dura e finalmente extrair o miolo. Um processo demorado, delicado e muitas vezes invisibilizado , assim como os trabalhadores que o realizam. Já o pistache, com toda sua pompa e nobreza importada, chega ao consumidor sem grandes percalços e com um preço que mais reflete sua exclusividade de mercado do que sua complexidade de produção.
Mas é na cultura que a castanha de caju mostra sua força. Ela está presente nas receitas de família, no pé de moleque das festas juninas, nos queijos veganos que substituem com maestria os produtos de origem animal, nos bolos, nos doces, no leite vegetal e até nos pratos salgados sofisticados. O pistache? Tem seu valor, sim, especialmente na confeitaria , mas sua presença é restrita, quase sempre importada, distante das mesas populares. Enquanto o pistache é gourmetização, a castanha de caju é democratização do sabor. É parte do cotidiano de milhões de brasileiros.
Do ponto de vista nutricional, o duelo também favorece a castanha. Rica em gorduras insaturadas, proteínas, magnésio, fósforo, zinco e antioxidantes, ela contribui para a saúde do coração, da pele, do cérebro. É uma aliada da alimentação saudável, mesmo sendo marginalizada por uma indústria que insiste em valorizar o que vem de fora e rebaixar o que nasce aqui. O pistache, embora também nutritivo, é menos acessível, menos presente e, por consequência, menos representativo para a identidade alimentar do brasileiro.
Essa comparação vai além da culinária. Ela expõe um velho problema: a nossa dificuldade em valorizar o que é nosso. O Brasil é o maior produtor mundial de castanha de caju, mas importa pistache a preços altíssimos e o idolatra em sobremesas de R$ 50. Enquanto isso, famílias inteiras vivem da colheita do caju em estados como Ceará, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte, e mal são lembradas no rótulo dos produtos industrializados. Não há pistache nas feiras livres de Aracaju, mas há castanha de caju com sal, sem sal, quebrada, torrada, doce, moída, viva em sua plenitude popular.
A castanha é resistência gastronômica, é cultura viva, é raiz. É o sabor de um povo que planta, colhe, transforma e consome. É símbolo de uma economia regional que, mesmo diante da exploração e da desvalorização, segue pulsando. Negar sua superioridade é, no fundo, reproduzir uma lógica colonial que valoriza o que vem de fora, enquanto ignora o poder que temos nas mãos , ou melhor, na terra.
Não é só sobre gosto, é sobre identidade. E identidade não se compra em delicatessens nem se vende em potes verdes-claro com nome em francês. Identidade se constrói com memória, afeto e pertencimento. A castanha de caju tem tudo isso , e mais. Ela tem sabor, tem história, tem território. E por isso, sim, é superior ao pistache. A castanha de caju é nossa. E por isso e por tudo mais é superior.
Trago Fatos , Marília Ms .
Comentários
Postar um comentário