Cabelo colorido não é só cor. É história, é política, é identidade.




Muito antes da internet, muito antes dos filtros e dos stories, o cabelo colorido já dizia muita coisa sobre quem o usava.

No século XVIII, era símbolo de nobreza.
Pós em tons pastel , rosa, lilás, azul claro , cobriam as cabeleiras da elite europeia.
Feitos de farinha, arroz e flores moídas, eram um luxo reservado a quem podia viver distante da fome e da realidade do povo.
O rei Luís XVIII, Maria Antonieta, e tantos outros da corte ostentavam essas cores com orgulho , sem gênero, sem limites.
Mas vamos combinar: toda essa exuberância era sustentada pelo trabalho de outros.
Enquanto uns tingiam os fios com pó de arroz, muitos nem arroz tinham para comer.

Na mesma Europa, ser ruiva era quase uma sentença.
O vermelho natural nos cabelos , que hoje inspira tanta gente nos salões , era, na Idade Média, interpretado como sinal de feitiçaria.
Ruivas foram queimadas, perseguidas, silenciadas.
Só por terem nascido com a cor do fogo.

Mas na África, o vermelho era reverência.
Com argila e tradição, os povos usavam os cabelos para expressar fé, força e identidade.
Na cabeça, o orgulho. No cabelo, a ancestralidade viva.

E aí vieram os anos 70.
A juventude, o punk, o grito preso na garganta.
O cabelo colorido voltou, agora como protesto.
Azul elétrico, verde neon, rosa choque — cada cor um ato de resistência contra o sistema.

Mas olha que curioso: o que antes era símbolo de elite virou bagunça quando foi parar na cabeça dos alternativos.
E quando a moda percebeu o potencial… transformou a transgressão em tendência.

O loiro pivete é exemplo disso.
Nas favelas, entre os meninos pretos, descolorir o cabelo no fim do ano virou ritual.
É sobre estilo, presença, autoestima.
Mas por anos foi ridicularizado, apontado, marginalizado.
Até que , adivinha , a elite copiou, e aí virou hype.

Esse é o ciclo.
Quando vem de baixo, é criticado.
Quando sobe, é celebrado.

Cabelo colorido já foi realeza, já foi bruxa, já foi terreiro, punk, funk, favela e passarela.
Hoje tá aí: na escola, no escritório, no TikTok, no palco, na sua rua.

E a pergunta que fica é:
Quando foi que você olhou no espelho e pensou , esse cabelo é a minha cara?
Porque no fim das contas, não é só sobre estética.
É sobre se ver, se expressar e se aceitar.

Trago Fatos , Marília Ms .

Comentários

Matérias + vistas