Bolsonaristas desprezam a democracia
Enquanto as águas invadem as casas de centenas de famílias em Aracaju, enquanto o lixo se acumula nas ruas, os postos de saúde seguem lotados e ineficientes, e a população mais vulnerável enfrenta os mesmos descasos de sempre, há quem prefira brincar de nostalgia autoritária na Câmara Municipal. Como se não bastasse a distância cada vez maior entre o discurso político e as necessidades reais da população, agora somos obrigados a assistir ao triste espetáculo de vereadores que, em pleno 2025, tentam reviver os fantasmas de 1964 com pompa e reverência. É ou não é um escárnio?
Foi exatamente isso que fez o vereador Lúcio Flávio (PL), vice-líder do agrupamento da deputada Emília Corrêa: propôs uma sessão especial em homenagem à famigerada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, realizada às vésperas do golpe militar de 64. Um evento travestido de manifestação popular e religiosa, que de liberdade nada teve , serviu apenas para legitimar um regime de exceção que perseguiu, torturou, matou e censurou durante 21 anos. E agora querem que o povo de Aracaju bata palmas para isso?
É assustador como esse grupo bolsonarista segue à risca a cartilha da desinformação e do revisionismo histórico. Ao mesmo tempo em que tentam reescrever o passado para exaltar a ditadura militar, ignoram completamente os clamores do presente. Os mesmos que dizem defender a "família" e "Deus" abandonam os valores mais básicos do serviço público: empatia, responsabilidade e compromisso com a população. Afinal, qual a lógica de homenagear um movimento que atacou a democracia dentro de uma casa legislativa que só existe graças à democracia?
Felizmente, a maioria dos vereadores teve o bom senso de rejeitar essa proposta patética — e não há palavra mais adequada. Doze parlamentares se posicionaram contra esse circo ideológico que nada acrescenta ao cotidiano do aracajuano. Votaram a favor da sessão apenas o próprio autor, Lúcio Flávio, além de Diego (União Brasil), Alex Melo (PRD) e Tanata (Mobiliza). Nomes que, agora, têm suas posições muito claras diante da sociedade: enquanto as enchentes derrubam lares, preferem reverenciar o passado sombrio de um país sem liberdade.
Não é a primeira vez que bolsonaristas demonstram desprezo pela democracia. Desde 2018, vimos ataques às instituições, à imprensa, ao Judiciário, à ciência, à cultura e a qualquer voz dissonante. Alimentaram teorias conspiratórias, estimularam o golpismo, e, mesmo após o fracasso do 8 de janeiro, continuam agindo como se a democracia fosse uma peça de teatro que pode ser interrompida quando o script não os favorece. Eles não querem pluralidade , querem hegemonia. Não querem debate , querem obediência. E o mais trágico: usam as ferramentas democráticas para corroê-las por dentro.
É assim, tentando exaltar a ditadura, que querem se colocar como representantes do povo? Ignorando os buracos nas ruas, os atrasos nos atendimentos, a falta de política habitacional, a violência nos bairros periféricos? A população aracajuana merece mais. Merece vereadores comprometidos com o presente e com o futuro, e não saudosistas de um passado violento que envergonha o país.
A tentativa de transformar a Câmara de Aracaju em palanque de revisionismo autoritário é uma afronta ao voto popular. Em vez de trabalhar pela melhoria dos bairros alagados, das unidades básicas de saúde e da infraestrutura precária, alguns preferem cultuar ditadores. Mas nós, povo, não esqueceremos. Não esqueceremos quem votou a favor da democracia e quem a traiu por idolatria ideológica.
A democracia não é perfeita. Mas é ela que garante o direito de cada cidadão viver, pensar, votar e se expressar livremente. E é justamente por isso que deve ser defendida com todas as forças, especialmente contra aqueles que, de dentro dela, tramam sua destruição.
Trago Fatos , Marília Ms.
Comentários
Postar um comentário