Bem na nossa vez, o mundo mudou: a geração das escolhas que nunca bastam
Você tem 18 anos. Mal saiu da escola, já te perguntam qual faculdade vai fazer. Escolheu uma? Te perguntam onde pretende trabalhar. Arrumou um estágio? Já querem saber se vai casar. Comprou uma airfryer? Agora falta o carro, a casa, o plano de saúde, a aposentadoria. A vida virou uma linha de montagem , só que com peças que não se encaixam mais.
Porque bem na nossa vez… o mundo mudou.
Crescemos ouvindo que o certo era seguir o manual: estude, arrume um bom emprego, compre uma casa, tenha dois filhos e uma televisão de 42 polegadas. Mas a gente chegou à vida adulta e o manual sumiu. Os juros explodiram, o aluguel virou metade do salário, o arroz dobrou de preço e o plano de saúde virou privilégio de quem ganha acima da média , que é quase ninguém.
Casa própria? Só com sorte, herança ou um boleto de 35 anos.
A estabilidade virou mito.
E bem na nossa vez, a realidade virou glitch.
Nos oferecem liberdade, mas cobram estabilidade. Nos prometem que com um notebook a gente pode viver em qualquer lugar do mundo , Tailândia, Portugal, Bali , mas esquecem de dizer que a internet precisa ser boa, o fuso é confuso e o coração sente falta de ter onde deixar a escova de dentes.
Nos dizem que dá pra ser tudo: nômade digital, atleta de fim de semana, empreendedor de si mesmo, influencer de LinkedIn, youtuber nas horas vagas, concursado depois das 18h e, quem sabe, abrir uma cafeteria vegana numa capital do Sudeste. Dá pra tudo.
Mas a verdade é que a gente só queria conseguir pagar o aluguel sem dividir o quarto com um estranho.
Dá pra correr 5km às 6h e beber até cair às 23h.
Dá pra criar uma marca pessoal e se esconder nas redes ao mesmo tempo.
Dá pra amar a solitude e odiar a solidão.
Dá pra tudo, mas tudo cansa.
E mesmo com tanto "poder escolher", nunca foi tão difícil escolher qualquer coisa. Porque o excesso virou ansiedade. A liberdade virou cobrança. A autonomia virou sobrecarga. A gente olha pro lado e parece que todo mundo tá indo bem, menos a gente. Porque o sucesso agora tem filtro, ring light e um fundo de praia paradisíaca.
O mundo virou palco de uma peça onde o roteiro dos nossos pais já não serve mais.
Mas seguimos tentando atuar como se servisse.
Só que, no nosso ato, o cenário desabou.
E ninguém avisou.
Ninguém avisou que viver hoje custa caro. Que estabilidade emocional virou artigo de luxo. Que saúde mental é um campo de batalha. Que pagar a terapia e o aluguel no mesmo mês é privilégio. Que romantizar o empreendedorismo é fácil quando você não precisa vender o almoço pra comprar a janta.
A gente não falhou.
A gente não é perdido.
A gente só nasceu numa época onde o mundo não se encaixa mais nos moldes de antes.
E isso exige um tipo novo de coragem: não a de acertar o caminho…
Mas a de bancar o que se escolhe.
A coragem de dizer "isso aqui é meu", mesmo que pareça pouco pros outros.
A coragem de dizer “eu não quero tudo”, porque tudo virou peso.
A coragem de criar um novo roteiro, mesmo que sem palco, com poucos aplausos, mas com alguma paz.
Porque talvez a resposta não esteja em “dar certo”.
Mas em aprender a viver com um mundo que já não é mais o mesmo ,
E ainda assim, chamar isso de vida.
Trago Fatos , Marília Ms.
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