Aracaju, a cidade da maquiagem e do lixo: o contrato do “melhor do mundo” que virou vergonha pública



Diziam que era o “melhor contrato do mundo” para o povo de Aracaju. Diziam que a troca da empresa de limpeza pública seria um marco. A economia seria de mais de trinta milhões de reais. Comemoraram com festa, manchete e vídeo institucional. Mas esqueceram de avisar ao povo que essa economia viria à custa de uma cidade mergulhada no lixo, tomada pelo descaso e contaminada pelo chorume da negligência pública.

Hoje, Aracaju respira entre sacos de lixo acumulado, mato nas calçadas e esgoto visual que cresce nas portas das casas dos bairros mais periféricos. Uma situação alarmante, insalubre e desumana, que revela o verdadeiro custo de uma gestão que prioriza propaganda em detrimento de serviço público de qualidade.

A Renova Ambiental, empresa contratada para cuidar da limpeza urbana, virou símbolo de um fracasso que já não se pode esconder. Vídeos e fotos comprovam: caminhões da empresa despejando chorume nas ruas, equipamentos sucateados, coleta irregular, lixo acumulado por dias a fio. E o que deveria ser motivo de investigação séria foi, a princípio, tratado como “fake news” por setores aliados à prefeitura. Até que os órgãos ambientais notificaram a empresa e a própria gestão municipal. Até que a polícia ambiental precisou agir, e o gerente da Renova foi conduzido coercitivamente à delegacia por omissão de provas e possível crime ambiental. Isso mesmo: a empresa que limpa a cidade está sendo investigada por sujá-la ainda mais.

A cereja podre desse bolo? A prefeita Emília, que não se pronuncia. Não fala, não explica, não assume. Seu silêncio ecoa mais alto que as buzinas dos caminhões de lixo que não passam. Sua ausência diante do problema beira o deboche. Enquanto os moradores reclamam, mandam mensagens, compartilham vídeos da sujeira que toma conta dos seus bairros, ela se ocupa de fazer vídeos ensaiados nas redes sociais. A prefeita do TikTok dança, mas não administra. Ri, mas não responde. Aparece, mas não resolve.

É impossível ignorar que as áreas centrais e turísticas de Aracaju seguem limpas e organizadas. Os corredores que recebem turistas e câmeras de jornal são lavados com cloro e flores. Mas basta sair do eixo nobre da cidade para encontrar a face real de Aracaju: um município onde bairros inteiros convivem com o lixo como paisagem urbana permanente.

A periferia está jogada às traças, literalmente. Crianças brincam ao lado de pilhas de lixo, idosos tentam caminhar entre o matagal, e o povo, cansado, denuncia , mas não vê retorno. A coleta virou privilégio, o asfalto virou exceção e a limpeza virou luxo.

E o que é ainda mais revoltante é que tudo isso poderia ser evitado se a economia tão alardeada tivesse vindo acompanhada de responsabilidade. Governar não é apenas trocar contratos e fazer balanços numéricos. Governar é prestar contas, é garantir dignidade básica, é responder às crises com ações concretas , e não com filtros de Instagram.

O que estamos vendo em Aracaju é a institucionalização do populismo digital: uma prefeita que se comunica com vídeos, mas não com ações. Que investe em imagem, mas negligencia o essencial. Que se esconde atrás da cortina de fumaça das redes sociais enquanto o cheiro do lixo invade as casas do povo.

É hora de perguntar com firmeza:
Esse era o “melhor contrato do mundo”?
Esse é o modelo de cidade que queremos?
Aracaju vai continuar pagando o preço da economia cega e da política de aparências?

Enquanto a gestão finge que está tudo bem, o povo segue refém do lixo, da omissão e da maquiagem política. Mas nem todo lixo é reciclável. E, nesse caso, o que precisa ser varrido não são só os resíduos das ruas , mas a cultura da indiferença que se instalou no comando da capital sergipana.

Aracaju merece mais que vídeos.
Merece ação.
Merece dignidade.
E acima de tudo, merece respeito.

Trago Fatos , Marília Ms.

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