A praça, a cerveja e a ilusão: um retrato de Tunum do Maranhão e a política do descaso







No município de Tunum do Maranhão , ou melhor dizendo, no retrato escancarado do Brasil que finge ser pátria enquanto samba sobre a miséria , foi "inaugurada" uma praça. Sim, uma praça. Um espaço público minúsculo, improvisado, acanhado. Daqueles que mal têm banco, sombra ou serventia, mas que serviu de palco para algo muito maior do que ela: a encenação grotesca da política do marketing barato em cima da pobreza estrutural.

O pior é que o prefeito não apenas inaugurou o espaço como se estivesse entregando o novo Cristo Redentor do Norte, ele fez marketing, fez festa, fez pose e selfie, como se aquele quadrado de cimento fosse a prova viva de progresso e desenvolvimento. Chamou de “obra”. E ainda arrastou o povo para bater palma. Tudo isso em um município em que falta asfalto, falta saneamento, falta escola de qualidade, falta hospital , mas sobra cerveja e hipocrisia.

A praça do Brejo do João , que também foi "contemplado" com essa benfeitoria visual , é mais um tijolo no muro de cinismo que separa a elite política do povo que rala e sangra. Não há transparência no valor da obra, o que por si só já levanta suspeitas. Mas o dado que temos é ainda mais escandaloso: a prefeitura gastou mais de R$ 400 mil no ano passado com praças e jardins.

Quatrocentos mil reais. Num município onde falta água tratada. Onde as pessoas caminham por estradas de barro. Onde a esperança escoa pelas sarjetas , quando há sarjetas.

E se você acha que parou por aí, senta que tem mais: no Carnaval, a prefeitura distribuiu 10 mil cervejas para a população. Uma cidade que vive de repasses estaduais e federais, sem autonomia econômica, que precisa de ajuda para respirar , mas consegue patrocinar embriaguez coletiva enquanto os esgotos correm a céu aberto.

A cereja desse bolo mofado? O patrocínio veio direto do gabinete do Ministro das Comunicações do governo Lula. Enquanto falta dignidade, sobra conchavo, sobra verba para agradar aliados e eleitores, sobra vontade de transformar pão e circo em política pública. Sobra indiferença.

Vamos aos números que calam qualquer defesa:

  • A cidade arrecadou R$ 3,8 milhões em 2024, mas só a Câmara de Vereadores custou R$ 3,1 milhões.

  • Resultado? O município precisou de R$ 177 milhões em repasses do Estado e da União para funcionar.

  • A cidade tem apenas 700 pessoas com carteira assinada.

  • E mais de 18.500 habitantes vivem do Bolsa Família.

Esse cenário não é só trágico. É criminoso. O Estado brasileiro, em especial nas pequenas cidades interioranas como Tunum, virou uma máquina de empobrecimento disfarçada de gestão pública. O assistencialismo , necessário em muitos casos, mas abusado em outros , é usado como sedativo político, enquanto prefeitos fazem festas com dinheiro que deveria construir escolas, postos de saúde e infraestrutura.

Estamos vivendo a distopia da inversão de valores: onde praça vira obra, cerveja vira política social, e prestação de contas vira piada de palanque. E o povo? O povo é induzido a aplaudir, porque entre a indignação e a sobrevivência, muitas vezes se escolhe o segundo.

A pergunta que fica é: até quando?
Até quando vamos aceitar que cidades inteiras sejam sustentadas por uma estrutura política que prioriza a propaganda e despreza o progresso real?
Até quando vamos ver nossos impostos irrigando o populismo enquanto comunidades inteiras seguem abandonadas?

Tunum do Maranhão é só um retrato. Mas o quadro é nacional.
E a moldura, infelizmente, continua sendo feita com cimento fraco, madeira podre e um verniz de populismo que, ao menor sinal de crise, revela o que sempre foi: mais uma maquiagem de um Brasil que ainda não aprendeu a respeitar o próprio povo.

Trago Fatos , Marília Ms .

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