O Fetiche dos Alimentos de Grife


Há algo de profundamente humano na necessidade de ostentação. Se antes ela se limitava a ouro, peles e carruagens, hoje se infiltrou nas prateleiras gourmet, vestida de potinhos de porcelana, embalagens de lata e frascos minimalistas com rótulos escritos em francês.

A gastronomia se tornou um campo de batalha entre a necessidade e a vaidade — e os alimentos de grife são suas armas mais bem afiadas. Eu, assim como muitos, sou refém desse jogo. E não nego: há um prazer quase sensual em consumir certas iguarias metidas à besta.

A cereja importada no potinho de porcelana talvez seja o maior exemplo desse fetiche. Não é só uma fruta — é um evento. O vidro delicado, o brilho das cerejas em calda, o rótulo elegante… tudo grita luxo. É um mimo, um carinho que alguém teve na embalagem para nos convencer de que aquela cereja é mais especial do que qualquer outra. Funciona. Pego a colher e me permito acreditar.

A "maionese do bebê" segue a mesma lógica. É cremosa, tem uma embalagem que comunica status e um nome que soa como algo reservado à elite infantil europeia. No fundo, é só uma boa maionese, mas que vem embalada na fantasia do exclusivo. E se o rótulo diz que foi feita com ovos orgânicos de galinhas que ouviram Bach antes de botar, quem sou eu para contestar?

Agora, Sriracha me confunde. É um molho popular na Ásia, barato e comum, mas por aqui virou item de colecionador. Por quê? O frasquinho com o galo é irresistível. É uma garrafinha que combina com qualquer feed do Instagram — e a ironia é que, mesmo sendo picante, o que arde mesmo é o preço.

Depois vêm as balas de latinha, que me fazem questionar: estamos comprando o doce ou a embalagem? O fascínio é óbvio. Abrir uma latinha dessas em público passa a mensagem de que você não se contenta com qualquer balinha plástica e genérica. É como um selo de bom gosto em miniatura. Mas a verdade inegável é que, muitas vezes, o charme se dissolve no primeiro minuto de consumo.

Bermate é um caso à parte. O gosto é chique, a ideia é chique, a aura de mistério em torno do nome é chique. Quando vejo alguém tomando, imediatamente respeito um pouco mais. Não é apenas um chá — é um manifesto de sofisticação.

Já o café em grão me provoca sentimentos conflitantes. É um tesouro brasileiro que, ironicamente, se tornou item de grife no próprio país. O Brasil produz alguns dos melhores cafés do mundo, mas, para ter acesso a um produto de qualidade, somos obrigados a pagar como se estivéssemos importando da Suíça. Revoltante e sedutor ao mesmo tempo.

Entramos então no campo dos biscoitos Biscoff e seus primos dinamarqueses. Eles não tentam disfarçar o apelo premium — são belíssimos, deliciosos e caros. Mas há uma justiça nesse preço: a experiência sensorial realmente entrega o que promete. E é um valor que, por um instante de prazer crocante, estamos dispostos a pagar.

Por fim, o tomate pelati em lata é minha permissão pessoal para o luxo. É uma "semi grife", uma indulgência gourmet que transforma qualquer molho em um banquete digno de um domingo italiano. Pode parecer um capricho, mas eu me agarro ao fato de que faz diferença no sabor.

Algumas vaidades são perdoáveis.

E você? Qual é o alimento de grife que mais te seduz?


 Trago Fatos, Marília Ms.

Comentários

Matérias + vistas