O amor à mostra e a mentira bem editada: o teatro dos relacionamentos nas redes sociais
Hoje, ao rolar meu feed do Instagram, vi uma das minhas melhores amigas postando uma sequência de fotos sorridentes com o namorado. Um carrossel de abraços, beijos, legendas melosas e declarações públicas de amor. A legenda? “Meu porto seguro.” A imagem? Um casal perfeito.
Se eu não a conhecesse, teria engolido a performance. Teria sentido até uma pontinha de inveja. Teria acreditado naquela felicidade cinematográfica. Mas eu conheço. Conheço a realidade por trás da lente embaçada dos filtros. Sei que, dias atrás, ela me ligou aos prantos. Me contou dos ciúmes doentios, das brigas intermináveis, da insegurança que consome o relacionamento deles como cupim numa madeira velha.
Então me pergunto: o que leva uma pessoa a fazer isso? A viver uma relação frágil, instável, às vezes até tóxica, e mesmo assim se empenhar tanto em parecer feliz na internet?
A resposta pode estar no mundo em que vivemos , um mundo onde ser feliz importa menos do que parecer feliz. Onde o feed virou vitrine, o story virou confissão editada, e o amor virou performance. Um mundo onde curtir a própria vida é menos importante do que conquistar curtidas nas fotos.
E nesse espetáculo de encenações, o amor se transforma num teatro vazio. Um teatro onde a plateia somos nós, os seguidores, que batemos palmas para o romance dos outros, enquanto lutamos para manter os nossos pedaços colados. É uma forma de anestesia coletiva: se eu posto que estou bem, talvez eu acredite que estou. Talvez eu convença os outros , e quem sabe até a mim mesma , de que minha relação está viva, mesmo que por dentro esteja apodrecendo.
É cruel, mas é real. E não é só com ela. A lista de casais que conheço que postam declarações um dia e se xingam no privado no outro é longa. As redes sociais viraram um disfarce coletivo, um desfile de vaidades onde cada post carrega um pouco de desespero por validação.
E aí eu penso em todas as vezes que admirei outros casais. Todos os stories que me fizeram pensar que eu era a única vivendo um amor real e imperfeito, enquanto o mundo parecia viver romances de cinema. Tudo ilusão?
Talvez não tudo. Talvez alguns amores sejam verdadeiros mesmo. Mas o problema é que a vitrine é igual para todos, e a gente nunca sabe se está olhando para um casamento sólido ou para um cenário montado.
Estamos todos tentando convencer alguém , talvez um ex, um crush, ou nós mesmos , de que estamos bem. E a consequência disso é uma sociedade cansada, competitiva, adoecida. Estamos todos tentando vencer uma guerra silenciosa de quem é mais feliz.
Mas eu estou exausta. Cansada de fingimentos. De performances sentimentais. De saber demais sobre o que não é verdadeiro.
Meu desejo? Que as pessoas parem de vender amores que não vivem. Que não usem o amor como estratégia de marketing pessoal. Que se permitam viver a crise, viver a dúvida, e buscar a cura no íntimo, não no feed.
A vida a dois já é desafiadora o suficiente fora da internet. Que pelo menos dentro dela, a gente tenha coragem de ser verdadeiro. Ou ao menos, silêncio.
Porque no fim das contas, a felicidade que se grita aos quatro ventos nem sempre é a que se sente de verdade no silêncio do quarto. E às vezes, o “eu te amo” dito em sussurro longe das câmeras vale mais do que todas as fotos com filtro do mundo.
Trago fatos, Marília Ms.
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