Você já refletiu sobre como as desigualdades sociais podem transformar o que chamamos de "vício em redes sociais" em uma necessidade de acesso a alternativas de lazer?
Vivemos na era do digital, e nunca se falou tanto sobre o "vício" em redes sociais. Psicólogos, influenciadores e especialistas alertam para os perigos de passar tempo demais na tela, para a necessidade de se desconectar e viver a "vida real". Mas o que acontece quando essa desconexão significa apenas o vazio? E se, na verdade, o problema não for o vício, mas a falta de alternativas?
Historicamente, quem tem dinheiro sempre teve mais opções de lazer. Viajar, frequentar academias bem equipadas, praticar esportes em clubes caros, ir a restaurantes sofisticados, consumir cultura em teatros, cinemas e shows pagos – tudo isso custa dinheiro. Enquanto isso, para quem é pobre, o acesso ao lazer sempre foi limitado. Mesmo quando existem opções gratuitas, elas muitas vezes estão distantes, mal estruturadas ou subfinanciadas pelo poder público.
Com a ascensão da tecnologia, a internet surgiu como um dos poucos espaços democráticos de lazer. De repente, qualquer pessoa com um smartphone e uma conexão podia se entreter, se informar e socializar sem precisar gastar um centavo. Mas o que era para ser uma oportunidade de inclusão, hoje é visto como um problema.
A grande verdade é que, nas redes, o pobre assiste ao rico viver. Vemos influenciadores mostrando suas casas com piscina, suas viagens paradisíacas, seus momentos de lazer exclusivo. Vemos seus treinos na academia, seus almoços caros, seus eventos privados. E entre um "arrasta pra cima" e outro, eles nos dizem: "você precisa sair da tela e viver de verdade". Mas viver o quê, se não temos as mesmas oportunidades?
O celular é o único espaço de escape acessível para quem não pode pagar por diversão. É no TikTok, no Instagram, no YouTube e no WhatsApp que muita gente encontra distração depois de um dia exaustivo de trabalho ou estudo. É ali que se comunica com os amigos, acompanha notícias, aprende novas habilidades, joga de graça, assiste a conteúdos que jamais poderia pagar para ver no cinema ou no teatro.
Quando dizem para você sair da tela, estão pressupondo que você tem um mundo incrível do lado de fora, esperando para ser explorado. Mas essa não é a realidade de grande parte da população. Para muitos, sair de casa significa enfrentar transporte público precário, ruas perigosas e opções limitadas de lazer gratuito.
Quem tem dinheiro pode se "desconectar" porque tem um clube para frequentar, uma viagem planejada, um hobby custoso para manter. Quem não tem, fica com as redes sociais. E por isso, ao invés de culpar o indivíduo por estar tempo demais na tela, talvez devêssemos questionar por que a sociedade não oferece mais alternativas reais de entretenimento acessível.
A próxima vez que alguém te mandar "largar o celular e viver de verdade", pergunte a essa pessoa se ela pagaria sua entrada no cinema. Pergunte se ela te levaria para aquele restaurante onde ela posta stories. Pergunte se ela te daria uma aula de beat tênis ou te convidaria para o evento vip que ela frequenta. Se a resposta for não, então talvez o problema não seja o seu suposto "vício". Talvez a questão seja que, para os pobres, a internet é a única forma de lazer que restou.
E você? Acha que é viciado em redes sociais ou só não tem opção melhor?
Trago fatos , Marília Ms
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