O Tempo Livre de uma Mulher Sempre Precisa de Justificativa?
Se uma mulher resolve passar a tarde de um domingo sem fazer nada, apenas assistindo a uma série qualquer, logo vem a sensação incômoda de culpa. Se decide sair para um café sozinha, sem filhos, marido, amigos ou trabalho envolvido, surge a dúvida: “Será que não deveria estar aproveitando esse tempo de outra forma?” Se escolhe investir horas em um hobby sem retorno financeiro, já vem alguém perguntar: "Mas você ganha algo com isso?"
O tempo livre de uma mulher nunca é só tempo livre. Ele precisa ser útil, produtivo ou, no mínimo, voltado para os outros. Descansar por descansar, se divertir sem propósito, investir em si mesma sem um resultado palpável , tudo isso parece um desperdício. Enquanto os homens podem tocar violão, jogar futebol ou sair para beber sem que ninguém questione sua escolha, o lazer feminino precisa ser justificado, encaixado entre as obrigações, como um luxo que só se permite quando tudo o mais já foi resolvido.
Desde pequenas, as mulheres são ensinadas a priorizar os outros. Se há tempo sobrando, ele deve ser preenchido com cuidado: pela casa, pela família, pelo trabalho, pelos amigos. A ideia de se dedicar a algo sem um retorno direto — sem produtividade, sem um objetivo final , parece egoísta. E o pior: se uma mulher decide parar, se dar uma pausa genuína, a sensação de culpa é quase automática.
Isso vem de um sistema que sempre cobrou das mulheres uma dedicação absoluta ao outro. O tempo de um homem é visto como um espaço natural de descanso e lazer; já o de uma mulher deve ser ocupado com tarefas úteis ou produtivas. Mesmo quando ela consegue um intervalo para si, há a sensação de que está negligenciando algo ou alguém.
A "carga mental invisível" também tem um papel aqui. Enquanto um homem pode se desligar do mundo para um hobby, as mulheres, mesmo em momentos de lazer, continuam monitorando mentalmente listas de compras, compromissos da família e prazos do trabalho. O tempo livre nunca é completamente livre.
Por que o descanso feminino ainda precisa ser justificado? Por que hobbies sem finalidade prática ou financeira parecem desperdício? Por que uma mulher precisa se sentir produtiva até quando está relaxando?
O lazer não pode ser um prêmio de consolação, um "se sobrar tempo". Ele é um direito. Ele precisa ser visto como um espaço legítimo e inegociável, assim como acontece com os homens.
Isso não é mais uma cobrança.
É um convite.
Um respiro no meio do caos, uma pausa necessária no ritmo frenético da vida. Porque você pode. Sempre pôde. E talvez tenha esquecido disso entre prazos, expectativas e a ânsia de sempre fazer mais.
Não precisa esperar que tudo esteja perfeito, que as contas estejam todas pagas, que os problemas estejam resolvidos ou que alguém te dê permissão para descansar. A vida nunca vai encaixar todas as peças ao mesmo tempo — e, se você esperar por isso, talvez nunca se permita parar.
O tempo livre não é desperdício. Ele é tão essencial quanto o esforço, tão valioso quanto qualquer conquista. Porque é nele que a mente respira, que os sonhos ganham forma e que a alma encontra espaço para ser.
E a culpa? Ah, essa precisa ficar para trás. Porque descansar não é falhar. Pausar não é desistir. Cuidar de si não é egoísmo.
Então, aceite esse convite. Sente-se sem pressa, respire sem culpa e lembre-se: você não precisa se provar o tempo todo. Você só precisa viver.
Trago Fatos , Marília Ms.
Comentários
Postar um comentário