Influenciador que veio da favela pode ter uma Ferrari ? Se dinheiro compra tudo, por que a Ferrari ligou pra devolver o dinheiro e levar o carro de volta?
Ser rico no Brasil nunca foi apenas uma questão de dinheiro. Há um código invisível, uma cartilha não escrita sobre como se portar quando se atinge o topo , e, claramente, não basta ter milhões na conta. É preciso saber ser rico da maneira "certa", com discrição, refinamento e um suposto "bom gosto" que, no fundo, serve mais para separar do que para unir.
A história do influenciador que saiu da periferia, venceu sem privilégios e conquistou seu espaço com a internet é um retrato da ascensão social moderna. Um jovem que não herdou fortuna, que não teve educação em colégios bilíngues e que não cresceu frequentando clubes de elite. Ele fez seu dinheiro de um jeito novo, do jeito que os ricos tradicionais não entendem ,e, talvez por isso, incomoda tanto.
Ele não apenas ficou milionário. Ele fez questão de mostrar. Exibiu cada conquista, celebrou cada vitória de forma extravagante, gastou sem medo e comprou tudo aquilo que um dia parecia inalcançável. Inclusive, uma Ferrari.
A ostentação sempre foi um símbolo de poder. Mas, curiosamente, esse poder tem uma espécie de limite racial e social. Quando um jovem branco, herdeiro de um império, desfila sua Ferrari pelas ruas de São Paulo, ele representa luxo, tradição, exclusividade. É a continuidade de um legado. Mas quando um influenciador negro ou periférico faz o mesmo, ele "passa dos limites". Sua alegria se torna exagerada, seu carro vira um "desperdício", sua presença se transforma em um ruído incômodo.
E então, a Ferrari liga e pede o carro de volta.
A explicação oficial? A marca não quer que sua imagem seja associada a uma ostentação "barulhenta". Mas qual ostentação? Porque, sejamos sinceros, Ferraris nunca foram sinônimo de discrição. Se o problema fosse a exibição exagerada, não haveria Ferraris berrantes nas ruas de Mônaco ou nas mansões de Beverly Hills. O problema, na verdade, é quem está dirigindo.
O Brasil adora vender a ideia de que "qualquer um pode chegar lá". Mas o que essa história prova é que há um teto invisível, um ponto onde o sistema aperta o freio e lembra que certas portas nunca foram feitas para todos.
A Ferrari poderia simplesmente aceitar o dinheiro e seguir a vida. Mas não. Porque, para manter sua exclusividade, ela precisa garantir que apenas um certo tipo de pessoa seja associado à marca. O que ela faz, então? Devolve o cheque. Recusa o cliente. Reafirma que nem todos os ricos são iguais.
Porque, no fim das contas, não basta ter dinheiro. É preciso ter o "código certo". E o código certo sempre foi escrito por quem já nasceu dentro do sistema.
O influenciador perdeu a Ferrari. Mas, no meio da polêmica, deixou um recado: se dinheiro fosse o único critério, a favela já teria Ferrari há muito tempo.
Trago Fatos, Marília Ms.
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