Desconstruindo a Performance: O Protagonismo Feminino em um Mercado Afetivo Manipulado




Em meio a uma cultura que exalta o ditado “Ai, homem, quando quer, ele faz”, precisamos parar para refletir sobre o que realmente significa dar espaço a um modelo de masculinidade que se sustenta em performances vazias e na ilusão de domínio. Não se trata apenas de um comentário sobre atitudes individuais, mas de uma crítica profunda a uma estrutura social que, historicamente, relegou as mulheres a papéis secundários enquanto glorificava um macho que “faz o que quer” sem prestar contas.

Ao ouvir repetidamente a ideia de que o homem, simplesmente pelo fato de querer, realiza seus desejos sem obstáculos, corre-se o risco de romantizar comportamentos que, na prática, mascaram uma sede por poder e controle. Essa “performance” , muitas vezes exibida com arrogância e descompromisso, cria um cenário onde o macho se coloca como o protagonista absoluto, ignorando ou minimizando as consequências de seus atos para os outros. Essa postura não é, de forma alguma, uma manifestação de liberdade genuína, mas sim uma construção social que perpetua a dominação e a posse, transformando o afeto em um espetáculo de poder.

Enquanto os homens ensaiam suas “performances baratas” para conquistar olhares e aprovação, muitas mulheres, ao cederem o protagonismo para esses modelos arcaicos, se veem presas num ciclo de expectativas irreais. Ao entregar a palavra e o espaço afetivo a um macho que se mostra apenas interessado em demonstrar seu poder , seja por meio de atitudes impulsivas, manobras de trânsito arriscadas ou qualquer outra demonstração de suposta virilidade , a mulher acaba por desvalorizar a própria capacidade de decidir seu rumo. É urgente questionar: por que continuar a ceder o controle para quem, em última análise, transforma o relacionamento em uma arena de performances?

Vivemos num mercado afetivo onde o valor de um relacionamento parece medido pelo quão espetacular é a atuação masculina. A narrativa de que “ele te quer” e que o homem precisa exibir uma conquista grandiosa para justificar sua presença cria um ambiente tóxico, onde a autenticidade é sacrificada em prol do espetáculo. Essa lógica não apenas empobrece as relações, mas também perpetua a ideia de que o afeto deve ser conquistado por meio de demonstrações de poder e domínio, e não pelo respeito mútuo e pela construção conjunta de uma vida.

É chegada a hora de uma mudança de paradigma. Em vez de se deixarem levar por performances superficiais e, muitas vezes, perigosas, as mulheres precisam retomar o controle de suas narrativas. O verdadeiro protagonismo não se conquista imitando comportamentos que, na essência, promovem a dominação, mas sim reconhecendo e valorizando a própria identidade e autonomia. Não se trata de uma rejeição da presença masculina per se, mas de um chamado para que as mulheres deixem de ser coadjuvantes em um drama que não foi escrito para elas.

A transformação do cenário afetivo passa pela desconstrução de velhos estereótipos e pela crítica às atitudes que, sob o pretexto de “performance”, mascaram uma lógica de posse. É preciso romper com a expectativa de que o homem deva ser o primeiro a agir, o primeiro a “fazer”, e sim reconhecer que o direito de decidir o rumo da própria vida é inalienável. Quando a mulher assume seu protagonismo, ela não apenas resgata sua autonomia, mas também redefine as regras do jogo, criando espaço para relações baseadas em equilíbrio, reciprocidade e autenticidade.

O discurso de “quando ele quer, ele faz” é um convite à reflexão sobre o que se entende por liberdade e autonomia no contexto das relações afetivas. Ao se permitir ser comandada por um modelo que preza pela ostentação e pela exibição de poder, corre-se o risco de transformar o relacionamento em uma peça de teatro onde a verdadeira emoção e a intimidade são perdidas. A mudança começa com uma simples, porém poderosa, decisão: a de rejeitar a performance barata e abraçar a autenticidade.

Chegou o momento de deixar para trás as ilusões de um protagonismo imposto e construir, de forma consciente, uma narrativa onde cada mulher é a autora de sua própria história. Que possamos, juntas, transformar o mercado afetivo num espaço onde o valor não seja medido pela capacidade de dominar, mas pela habilidade de viver e amar de maneira plena e verdadeira. Afinal, quando o protagonismo é reivindicado de forma consciente, não há espaço para a farsa , apenas para a liberdade real de ser quem se é.

Trago fatos , Marília Ms.

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