As Quatro Faces do Ciclo e a Metáfora dos Namorados
Já imaginou se o seu namorado tivesse, mensalmente, quatro "namoradas"? Se a cada semana ele fosse uma versão diferente de si mesmo,ora enérgico e brilhante, ora irresistivelmente sedutor, depois introspectivo e por fim sensível ao toque do mundo? Essa analogia pode parecer exagerada, mas reflete com precisão a transformação constante que as mulheres vivem em cada fase do ciclo menstrual. Uma dança invisível, orquestrada pelos hormônios, mas sentida nos ossos, na mente, na pele e no coração.
Nos ensinaram a enxergar o ciclo menstrual como um fardo, uma inconveniência fisiológica, algo que deve ser silenciado, escondido e ignorado. Mas e se o víssemos pelo que realmente é? Um fluxo contínuo de renascimento, uma metamorfose hormonal e emocional que molda a forma como percebemos o mundo e a nós mesmas.
Semana 1: A Ressurreição do Corpo e da Mente
Assim que a menstruação termina, sentimos como se emergíssemos de um casulo. O corpo, antes exausto, agora ganha novo vigor. Os níveis de estrogênio começam a subir, e com isso, vem uma clareza mental afiada como navalha. As tarefas que antes pareciam desafiadoras agora fluem com naturalidade. Há uma disposição para o aprendizado, para iniciar novos projetos, para traçar metas ambiciosas. É como se, de repente, tudo fizesse sentido.
Esse período é uma janela de ouro para a produtividade, mas também para o autoconhecimento. No entanto, a sociedade raramente celebra esse estado. Espera-se que as mulheres sejam produtivas o tempo todo, ignorando que, assim como a natureza, seguimos ritmos cíclicos e não lineares.
Semana 2: O Brilho do Estrogênio e a Mulher Irresistível
Com o estrogênio e a testosterona atingindo picos, uma nova faceta emerge: a mulher ousada, sedutora, segura de si. Esse é o período da ovulação, em que a biologia nos veste com um magnetismo natural. Sentimo-nos belas sem esforço, a postura se endireita, os gestos ficam mais fluidos. Existe uma euforia latente, um desejo de socializar, de experimentar, de conquistar.
Se há um momento em que o mundo parece conspirar ao nosso favor, é esse. Mas há um paradoxo cruel aqui. Justamente quando estamos no auge da autoconfiança e do desejo, também somos mais objetificadas. A mesma sociedade que espera que sejamos discretas e contidas, aproveita-se desse brilho para nos transformar em símbolos, em meros corpos a serem desejados, e não em seres complexos que vivem e sentem.
Semana 3: O Confronto com a Própria Alma
Depois do êxtase, vem a queda. A progesterona sobe, trazendo consigo uma onda de introspecção e, muitas vezes, um desassossego emocional difícil de nomear. De repente, aquela segurança dá lugar a dúvidas, o riso fácil se transforma em uma sensibilidade aflorada. Choramos sem motivo, sentimos saudade de coisas que nem sabemos nomear.
É aqui que a sociedade nos rotula de "histéricas", "complicadas", "difíceis". Ninguém quer lidar com uma mulher que sente demais. O patriarcado aceita a mulher dócil, a mulher bela, a mulher produtiva. Mas não sabe o que fazer com a mulher que se olha no espelho e enxerga todas as suas sombras.
E assim, muitas de nós aprendem a se esconder. Engolimos a tristeza, camuflamos a vulnerabilidade, fingimos que está tudo bem. Mas o que aconteceria se, em vez disso, aceitássemos essa fase como um chamado para o autoconhecimento? Se parássemos de lutar contra nós mesmas e simplesmente ouvíssemos o que nosso corpo e nossa mente tentam nos dizer?
Semana 4: O Corpo Pede Silêncio
E então, chegamos ao fim do ciclo. O corpo se prepara para sangrar novamente, para descartar o que já não serve e recomeçar do zero. O mundo exige que continuemos em movimento, mas tudo dentro de nós pede descanso. A pele fica mais sensível, os sentidos aguçados, o cansaço pesa nos ombros. Esse deveria ser um tempo de pausa, de recolhimento. Mas vivemos em uma cultura que vê o descanso como fraqueza.
A menstruação sempre foi tratada como um tabu. Ainda hoje, em muitos lugares, mulheres são obrigadas a esconder absorventes como se fossem contrabando. São ensinadas a "superar" as dores, a ignorar a fadiga, a tratar algo natural como um incômodo passageiro. Mas a verdade é que esse período é um tempo sagrado. Um momento de reconexão com o corpo, de escuta interna, de compreensão do que precisa ser deixado para trás.
Ser Quatro em Uma é um Poder, não um Problema
Se os homens vivessem essa dança hormonal, o mundo teria parado para estudá-la, compreendê-la e adaptá-la às necessidades de quem a vive. Mas como o ciclo menstrual é uma experiência feminina, foi reduzido a um detalhe incômodo, algo que deve ser regulado, suprimido, ignorado.
Chegou a hora de mudarmos essa narrativa. De entender que ser cíclica não é fraqueza, mas potência. Que há beleza na transformação, que há sabedoria na oscilação, que há força em sentir.
E se os homens tivessem quatro "namoradas" por mês? Talvez finalmente compreendessem que não somos instáveis, mas sim intensamente vivas.
Trago fatos , Marília Ms.
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