A It Girl do Instagram: Entre o Glamour e a Alienação


Vivemos em uma era em que as redes sociais moldam padrões de comportamento e definem o que é considerado “sucesso”. No meio desse universo digital, encontramos aquela menina : a it girl ,que você segue no Instagram ou no TikTok. Ela é a personificação da perfeição aparente: sempre impecável, sempre sorridente, com uma vida que, a princípio, parece ter sido tirada de um conto de fadas moderno. Mas, por trás das fotos cuidadosamente editadas e dos stories repletos de estética “clean girl”, há uma série de contradições que merecem ser desnudadas.

A narrativa que ela constrói é, sem dúvida, fascinante para muitos: uma vida de luxo, onde o cotidiano se resume a idas à academia, cafés charmosos e momentos “top” em finais de semana regados a encontros e festas. Essa rotina, repleta de referências a cafés “instagramáveis” e looks impecáveis, é vendida como um modelo de aspiração  um estilo de vida que qualquer menina desejaria ter. No entanto, essa imagem polida esconde uma realidade bem diferente da experiência da maioria. Ela representa um universo privilegiado, onde a preocupação com transporte público, horários ou mesmo com a luta diária para alcançar uma posição de destaque social simplesmente não existe.

O que mais chama a atenção nesse cenário é a desconexão entre a estética impecável e a postura política ou melhor, a falta dela. Com frequência, essa it girl se apresenta como alguém completamente desprovida de engajamento ou consciência de classe. Há quase uma certeza tácita de que ela está inserida em uma lógica política que valoriza o status e o individualismo, refletido em sua postura despreocupada e na ausência de críticas às desigualdades sociais. Muitos chegam a afirmar que “99% de chance dela ser bolsonarista”, num comentário que, apesar de generalizador, aponta para uma tendência inquietante: a adesão a discursos que reforçam privilégios e afastam a pessoa dos problemas reais que afetam a maioria da população.

Essa contradição é especialmente visível quando se observa a transformação do “self” em mercadoria. Cada foto, cada legenda cuidadosamente elaborada, funciona como um cartão de visita de uma vida que parece perfeita , mas que, na verdade, é fruto de um conjunto de circunstâncias favoráveis e de uma cultura que valoriza mais a aparência do que o conteúdo. A it girl aposta na ilusão de uma existência sem preocupações, onde o glamour é a resposta para todas as questões. Contudo, essa aposta tem seu preço: a alienação em relação aos dilemas sociais e a negação de uma realidade onde o “estar bem” não é acessível a todos.

Ao optar por um estilo de vida pautado no consumismo e na ostentação, ela não apenas reforça a ideia de que a felicidade está na aparência, mas também contribui para a perpetuação de uma lógica de exclusão. Afinal, quando se vive em uma bolha onde o sucesso é medido pelo número de curtidas e pela estética das fotos, a consciência de classe , aquele entendimento crítico das desigualdades e da luta por direitos ,acaba ficando em segundo plano. E é justamente essa falta de engajamento que provoca o choque quando se descobre que, por trás do brilho e do glamour, há uma adesão a ideologias que, muitas vezes, favorecem a manutenção de um status quo profundamente desigual.

A crítica não se resume apenas à política ou ao consumismo, mas se estende à própria essência da cultura digital contemporânea. Em um ambiente onde a validação é medida em likes e seguidores, a autenticidade cede lugar à performance. A it girl se torna um produto de marketing, uma vitrine ambulante que vende uma ideia de perfeição inatingível para a maioria. Essa produção de uma identidade idealizada serve não só para alimentar os desejos de consumo, mas também para mascarar a ausência de um compromisso real com questões sociais fundamentais.

No fundo, a questão que se impõe é: até que ponto essa busca incessante por uma imagem perfeita contribui para a construção de uma sociedade mais consciente e engajada? Quando a estética se torna a prioridade máxima, a reflexão sobre as condições de vida, as lutas diárias e as contradições do sistema é deixada de lado. Assim, a it girl não é apenas um símbolo do consumismo desenfreado, mas também um retrato da alienação política que afeta uma parcela significativa da juventude atual.

Em última análise, a trajetória dessa menina nas redes sociais revela mais do que uma simples busca por reconhecimento ou status. Ela expõe as fissuras de um sistema que valoriza a aparência e o privilégio, enquanto ignora as reais necessidades de transformação social. A beleza, a riqueza e o estilo de vida aparentemente perfeito tornam-se, na verdade, um espelho distorcido de uma realidade onde a superficialidade reina e o engajamento crítico é deixado em segundo plano. E, assim, enquanto ela desfila sua vida de princesa digital, muitos de seus seguidores permanecem alheios à amarga verdade de que, por trás de cada foto impecável, existe uma escolha  consciente ou não, que reforça um sistema de exclusão e alienação.

É necessário, portanto, olhar além dos filtros e das poses ensaiadas. É preciso questionar: será que essa it girl, com toda a sua perfeição aparente, realmente representa um modelo de inspiração? Ou será que ela é, na verdade, a personificação de uma sociedade obcecada pelo visual e desprovida de um compromisso real com a justiça social? A resposta pode ser tão superficial quanto as imagens que ela compartilha  ou tão profunda quanto as contradições que insiste em ocultar.

Trago fatos , Marília Ms

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