A Ilusão do “Bom Gosto”: Entre a Uniformidade e a Pluralidade do Ser
O conceito de “bom gosto” sempre foi palco de debates acalorados e, para muitos, ele representa nada mais do que a padronização imposta pela sociedade , um molde que obriga as pessoas a se enquadrarem em um padrão único e homogêneo, afastando-as de sua verdadeira identidade e singularidade. Quando se afirma que “bom gosto” não existe, na verdade estamos criticando a ideia de que há uma forma correta e universal de apreciar a estética, algo que, ao contrário, deveria ser tão diverso quanto as experiências e vivências humanas.
Historicamente, os conceitos de estética e de “bom gosto” foram, em grande parte, criados e disseminados por elites que, ao impor seus padrões, criaram uma hierarquia cultural. Para essas elites, vestir-se, se comportar e até mesmo pensar de uma certa maneira era sinônimo de pertencimento a um grupo privilegiado. Essa imposição não é apenas uma questão de moda ou de crítica artística, mas também de poder: quem dita o que é “bom gosto” acaba, de forma sutil, excluindo e marginalizando aqueles que possuem repertórios culturais e estéticos distintos.
Vivemos numa época em que a internet e as mídias sociais amplificam essa padronização. Termos como “Kaira de Rica” e “Quite Luxury” tentam definir padrões de elegância e sofisticação que, na prática, empurram uma estética única, afastando a autenticidade e a liberdade de expressão. Em um cenário onde looks, penteados e poses parecem seguir um roteiro pré-definido, a ideia de “bom gosto” se torna uma armadilha: ela limita, homogeniza e, em última análise, exclui a diversidade que enriquece a nossa sociedade.
A verdadeira riqueza estética reside justamente na pluralidade. Cada pessoa traz consigo uma bagagem única de experiências, histórias e referências que não podem ser reduzidas a um padrão único. Vestir-se de maneira exuberante e divertida, por exemplo, é um ato de libertação, uma celebração da própria individualidade , algo que não pode ser medido ou julgado por um critério universal. Ao tentar impor um “bom gosto” pré-determinado, a sociedade ignora o fato de que a beleza é algo profundamente subjetivo, que varia conforme o olhar e o contexto de cada um.
Quando o ideal do “bom gosto” se transforma em regra rígida, corremos o risco de excluir aqueles que não se encaixam no molde. Essa exclusão se manifesta não apenas no campo da moda, mas em todos os aspectos da cultura. Pessoas com repertórios estéticos distintos, que celebram suas raízes e suas experiências singulares, são frequentemente rotuladas como “rebeldes” ou “diferentes”, quando, na verdade, elas apenas expressam a pluralidade de uma sociedade viva. O “bom gosto” padronizado é, portanto, um conceito que alimenta a intolerância ao diverso e que impõe uma visão estreita do que é ser esteticamente agradável.
Em vez de buscar uma definição única para o “bom gosto”, é preciso abraçar a diversidade. Não há certo ou errado quando se trata de expressão estética; o que há são diferentes linguagens que se articulam de forma rica e complexa, refletindo a multiplicidade de nossos sentidos e experiências. Cada vestimenta, cada penteado, cada escolha de estilo é um reflexo de quem somos , e tentar reduzir tudo a um padrão pré-estabelecido é negar a própria essência da humanidade.
A ideia de que “bom gosto” existe enquanto um padrão absoluto é uma construção social que serve mais para manter hierarquias do que para celebrar a diversidade. No final das contas, o verdadeiro “bom gosto” deveria ser entendido como a capacidade de reconhecer e valorizar as múltiplas formas de expressão que surgem de vivências únicas. Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, o que nos enriquece é justamente a liberdade de ser diferente, de criar identidades singulares e de celebrar a pluralidade sem medo de ser julgado. Afinal, ser autêntico é o maior ato de resistência contra a uniformidade que o mundo tenta impor.
Trago fatos, Marília Ms.
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