A Armadilha do Consumismo e o Desafio da Liberdade Financeira

 


Aos 15 anos, quando muitas de nós ainda estamos descobrindo nossos gostos e construindo nossa identidade, as “comprinhas de garota” podem parecer inofensivas , até que, com o tempo, se revelam como um sintoma de um problema muito maior. Hoje, somos confrontados com dados alarmantes: apenas 15% da geração economiza com a intenção de investir, uma estatística que expõe a fragilidade de uma cultura de poupança e planejamento financeiro entre os jovens.

O ato de consumir, especialmente quando iniciado precocemente, vai além do simples prazer momentâneo. Trata-se de uma rotina que, gradualmente, afasta o indivíduo do sonho da liberdade financeira. Quando cada pequena compra é vista como uma necessidade para validar o status ou a identidade, o consumo se transforma em um hábito difícil de quebrar. O problema se agrava num cenário econômico marcado por inflação crescente e preços cada vez mais altos em todos os setores, onde o crédito, apesar de ser acessado de forma tardia, acaba se tornando um alívio temporário que, a longo prazo, empurra a jovem geração para um ciclo de dívidas.

A geração Z, nativa da era digital, carrega hoje o peso de débitos que refletem a dificuldade de acumular recursos. O acesso tardio ao crédito, aliado à falta de uma educação financeira consistente, cria um ambiente onde o planejamento a longo prazo é negligenciado em favor de gratificações imediatas. Essa realidade torna a busca por independência financeira não apenas um desafio econômico, mas também um reflexo de uma sociedade que incentiva o imediatismo e a satisfação momentânea, em detrimento de uma visão de futuro.

Um dos aspectos mais alarmantes dessa geração é o paradoxo que se instala: ao mesmo tempo em que estão mais conectados e informados do que nunca, os jovens também são os que mais sofrem de doenças mentais. A pressão por validação, intensificada pelas redes sociais, faz com que o ato de consumir não seja apenas uma prática econômica, mas também um ritual para lidar com inseguranças e angústias. A constante exposição a tendências rápidas e supérfluas alimenta desejos incessantes, criando um ciclo vicioso onde o consumo se torna tanto uma fuga quanto uma fonte de estresse.

Quando adentramos o universo feminino, os desafios se multiplicam. Apesar de estarmos vivendo um período de avanços significativos  como o surgimento de novos nichos de mercado e a abertura de empresas lideradas por mulheres, especialmente durante a pandemia , as barreiras históricas ainda persistem. A remuneração inferior em comparação aos homens, a vulnerabilidade acentuada por fatores fisiológicos e emocionais, e as pressões sociais relacionadas ao casamento e à maternidade continuam a afetar a independência financeira das mulheres. Essa realidade cria uma dupla injustiça: por um lado, o ambiente de consumo exacerba hábitos que prejudicam o futuro financeiro; por outro, estruturas sociais enraizadas dificultam o avanço e a autonomia econômica feminina.

Vivemos na era dos aplicativos que tornam as compras mais rápidas, práticas e, muitas vezes, viciantes. O consumismo exacerbado é alimentado por um mercado que oferece uma infinidade de produtos e tendências, muitas vezes sem qualquer valor duradouro, mas com a promessa de status e validação social. Cada clique, cada notificação, reforça a ideia de que a felicidade  ou pelo menos a aparência dela está a um produto de distância. Essa lógica cria uma desculpa para gastar, mesmo diante da dificuldade de conquistar itens que realmente representem segurança financeira, como um imóvel, um carro ou, principalmente, a tão sonhada liberdade.

O relato pessoal de descobrir, somente aos 30 anos e após vivenciar a crise de uma pandemia, a vulnerabilidade resultante da falta de educação financeira, ressoa como um alerta para toda uma geração. Essa experiência evidencia que a liberdade  entendida não apenas como independência econômica, mas como autonomia para viver de acordo com suas próprias escolhas , depende, antes de tudo, de um entendimento profundo sobre o valor do dinheiro, do poder do investimento e da importância do planejamento.

É nesse contexto que a educação financeira se apresenta como a chave para a transformação. Quanto mais cedo se aprende a poupar, a investir e a planejar o futuro, maior a chance de se libertar das amarras do consumismo impulsivo e das dívidas. Não se trata apenas de acumular riquezas, mas de conquistar a liberdade para fazer escolhas que reflitam verdadeiramente nossos desejos e não as imposições de um mercado que lucra com a nossa fragilidade.

O desafio que se impõe à geração Z e, em especial, às mulheres que, historicamente, enfrentam barreiras adicionais , é reverter um ciclo vicioso de consumo imediato que compromete o futuro financeiro. As “comprinhas de garota” podem ter sido, em um primeiro momento, gestos de afirmação pessoal, mas se não forem acompanhadas de uma consciência financeira, podem transformar-se em armadilhas que atrasam a realização dos sonhos de liberdade e autonomia.

Portanto, o caminho para a verdadeira liberdade financeira passa pela educação, pelo autoconhecimento e pela coragem de resistir às tentações de um mercado que nos convida, a todo momento, a gastar para se sentir validado. O desafio é grande, mas os benefícios tanto para a saúde financeira quanto para o bem-estar mental e emocional ,valem cada esforço. Procurem educação financeira, pois é ela que compra a sua liberdade e que, em última análise, permite que você viva de acordo com os seus próprios termos.

Trago fatos, Marília Ms

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