Pagode Baiano: A Marginalização de um Gênero Culturalmente Rico e sua Luta por Visibilidade
Uma das razões que explica essa marginalização está relacionada ao mercado fonográfico e aos interesses dos empresários que, muitas vezes, preferem investir em artistas e estilos musicais que prometem maior retorno financeiro imediato e um alcance mais amplo. O sertanejo, por exemplo, tem uma presença consolidada em grandes veículos de comunicação e, com a força das suas colaborações com outros gêneros pop, frequentemente conquista maior apoio de empresários, gravadoras e patrocinadores. Por outro lado, o pagode baiano, que é ainda mais regional e com um público específico, acaba sendo ignorado por não se encaixar nesse padrão de consumo em massa, embora tenha um apelo cultural significativo nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.
Outro ponto importante é o boicote implícito por parte dos empresários do setor musical. Muitos desses empresários, acostumados a apostar em artistas que prometem grande retorno financeiro, negligenciam o pagode baiano, tratando-o como um gênero "menor", como se sua expressão popular e regional fosse sinônimo de "mercado limitado". Essa visão reducionista desconsidera o potencial de um público muito fiel, que, por décadas, consome o pagode de forma vibrante, especialmente em festas, eventos e shows nas cidades baianas e nordestinas. O mercado de entretenimento no Brasil tende a privilegiar os estilos musicais que mais se adequam ao seu esquema de consumo imediato, esquecendo-se de uma grande parcela da população que tem no pagode baiano uma verdadeira válvula de escape cultural.
A falta de visibilidade nos meios de comunicação é um reflexo dessa política de mercado. Quando se trata de mídia de massa, a presença de gêneros como o pagode baiano é quase inexistente. As grandes emissoras de rádio, televisão e plataformas de streaming, na maioria das vezes, não dão espaço suficiente para esses artistas, favorecendo estilos que se alinham mais facilmente com os padrões de consumo e as tendências que dominam o país. Isso cria um ciclo vicioso onde os artistas de pagode baiano, por não terem visibilidade, enfrentam dificuldades para alcançar novos públicos, e, por sua vez, a falta de visibilidade nos meios de comunicação os mantém marginalizados.
Ademais, a sexualização dos cantores de pagode baiano é um fenômeno que acompanha o gênero de perto. A imposição de padrões estéticos e comportamentais por parte da indústria musical e dos próprios fãs é um reflexo da pressão por uma imagem de "homem ideal" ou "mulher ideal", que precisa, muitas vezes, ser sensual e acessível, à medida que a música popular brasileira, em geral, sempre esteve marcada pela objetificação do corpo, principalmente no caso dos artistas. Isso se torna um ponto crítico, pois muitos cantores de pagode, para se manterem dentro dos padrões esperados pela indústria, acabam sendo forçados a moldar sua imagem de acordo com essas expectativas externas. Essa sexualização não é apenas uma questão de mercado, mas também uma limitação ao próprio potencial criativo dos artistas, que muitas vezes se veem obrigados a apresentar um comportamento ou uma imagem que não reflete sua verdadeira essência artística.
No entanto, a cultura do pagode baiano é muito mais do que isso. Ela é uma expressão genuína de alegria, resistência, e a celebração das tradições baianas. Os artistas de pagode baiano são, na maioria das vezes, embaixadores de uma cultura que reflete a vida cotidiana, as relações familiares, as festas tradicionais e a vivência do povo. O gênero é um elo que une diferentes classes sociais e gerações, sendo uma das músicas mais dançadas, cantadas e celebradas em todo o Brasil. Portanto, a marginalização desse gênero não é apenas uma injustiça estética, mas uma ofensa à rica e vibrante cultura que ele representa.
É necessário que os profissionais da música, os meios de comunicação e os empresários do setor revejam seus conceitos sobre o valor da música baiana, entendendo-a não como uma "moda passageira" ou um gênero regional sem impacto, mas como uma das forças culturais mais potentes do país. A maior visibilidade e o apoio da mídia e da indústria ajudariam a dar voz aos artistas, permitindo que o pagode baiano evoluísse e conquistasse novos públicos. Se houver uma mudança na percepção cultural e no mercado musical, o pagode baiano, com sua energia e autenticidade, tem potencial para ocupar o lugar de destaque que, por muito tempo, lhe foi negado.
Trago fatos, Marília Ms.
Comentários
Postar um comentário