Fubanga Core: A Revolução Estética que Enfrenta o Minimalismo com Ousadia Latina
A moda é um reflexo do tempo, um espelho que capta as mudanças culturais, econômicas e sociais de uma era. Mas também é uma arena de disputas: o que é considerado belo? O que é apropriado ou sofisticado? Em que momento um estilo se torna símbolo de algo maior? Essas questões ressurgem com força quando falamos do "fubanga core", uma estética que, nos últimos anos, tem emergido das margens do desprezo estético para ocupar as passarelas da aceitação e as redes sociais como um ato de resistência cultural.
O "fubanga core" carrega consigo uma herança dos anos 2000 e 2010, marcada pela superabundância visual. Estampas vibrantes, principalmente o animal print, jeans de cós baixo que abraçam o corpo, roupas rendadas, maquiagem carregada, unhas de gel e mega hair são os elementos que compõem essa estética. Ela não é discreta nem pede desculpas por sua presença. E talvez seja essa ousadia que incomode tanto os padrões estabelecidos.
No Brasil, o "fubanga core" encontra referências emblemáticas na cultura popular, como as personagens Bebel, de Paraíso Tropical, e o inesquecível Agostinho Carrara, de A Grande Família. Ambos, cada um à sua maneira, representam a exaltação de um estilo que celebra o exagero. A diferença é que, enquanto Bebel, como muitas "piriguetes" da televisão brasileira, carrega uma conotação machista, sendo vista como vulgar ou excessivamente sexualizada, Agostinho transforma essa estética em algo cômico e, portanto, mais aceitável para o olhar crítico. Essa dualidade evidencia como o gênero influencia a percepção estética: enquanto mulheres são julgadas pela sensualidade, homens podem usar o mesmo estilo como uma ferramenta de expressão sem tantas amarras.
Porém, a história não se limita às referências midiáticas. O "fubanga core" tem raízes profundas em bairros populares do Brasil, em regiões onde a moda é usada como afirmação de identidade e autoestima. Essa estética sempre esteve presente em comunidades periféricas, onde a criatividade e a adaptação transformaram elementos simples em algo marcante. Um tamanco de plástico vira uma peça de moda, um jeans apertado é símbolo de feminilidade, e um mix de joias pesadas exala poder.
Mas, apesar de sua autenticidade, essa estética foi historicamente marginalizada. Durante muito tempo, "fubanga" era uma forma pejorativa de descrever algo considerado brega, cafona ou de mau gosto. Era a palavra que expressava o preconceito de classe, o desprezo pelas escolhas de moda de pessoas que ousavam mostrar curvas, usar cores vibrantes e ocupar espaço em um mundo que glorifica o minimalismo. Não por acaso, a ascensão do "fubanga core" como tendência ocorre em paralelo à saturação do minimalismo. Tons neutros, alfaiataria e o estilo “clean” foram transformados em sinônimo de sofisticação, como se fossem as únicas alternativas para quem busca elegância.
E aqui reside a grande crítica: por que a estética minimalista, predominantemente europeia, é vista como superior? Por que o bege, o preto e o branco são mais respeitáveis do que o animal print, o neon ou a renda? Essa valorização excessiva do minimalismo é, em grande parte, resultado de um olhar eurocêntrico, que dita padrões de beleza globais enquanto marginaliza estéticas que fogem desse molde. Ao rejeitar o "fubanga core", não estamos apenas rejeitando um estilo, mas também negando a legitimidade de culturas latinas e populares que têm muito a dizer e mostrar.
O movimento atual de resgate do "fubanga core" é, portanto, mais do que uma moda: é uma declaração de identidade. Celebridades e influenciadoras têm ressignificado o que antes era motivo de chacota, transformando o exagero em símbolo de poder. Nesse contexto, a maquiagem com blush marcante e lábios contornados deixa de ser apenas estética e se torna manifesto. Os cílios postiços, as unhas longas e os acessórios brilhantes não pedem desculpas; eles gritam presença.
Essa ressignificação é particularmente significativa porque, no fundo, é um confronto direto com os preconceitos arraigados. É um lembrete de que a moda não precisa ser discreta para ser válida, nem precisa se conformar a padrões que excluem a diversidade de corpos, histórias e culturas. O "fubanga core" representa um retorno à ousadia, uma celebração do corpo e da estética que não se esconde e que não aceita ser silenciada por regras ditadas por uma elite distante da realidade de milhões.
Mais do que uma tendência, o "fubanga core" é resistência. É a resposta ao conformismo bege que domina as passarelas e um grito de afirmação para aqueles que sempre foram tratados como secundários no mundo da moda. Afinal, quem disse que curvas, cores e brilhos são menos elegantes do que uma roupa minimalista? Quem define o que é bom gosto senão nós mesmos? O "fubanga core" não é só um estilo; é um movimento que celebra o exagero, a cultura latina e a liberdade de ser o que quiser, sem pedir permissão.
Trago fatos , Marília Ms
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